Pela primeira vez em horas, Azura sentiu uma gostosa pontada de esperança ao ouvir os urros de Torahk e vê-lo sobrevoar as árvores sobre sua cabeça.
A petrichoriana rapidamente alcançou a clareira e viu-os Kinos acordando assustados, um a um, causando uma arruaça desesperadora ao ver o gigantesco dragão negro que esvoejava acima deles. Azura apertou o passo ao ver os arqueiros armando as flechas e apontando para os céus.
- Esperem! - a garota gritou repetidas vezes, sendo ouvida apenas na terceira. - Esperem!
Frey abaixou seu arco ao ver a aproximação da garota, que voou até eles mais rápido que o próprio animal. As armas abaixaram e os Kinos recuaram ao verem que aquela criatura majestosa pousava em sua campina.
Ao passo que todos se afastaram, Azura aproximou-se. As asas de Torahk em seu pouso fizeram algumas tendas próximas voarem e desesperados nativos gritarem e afastarem-se.
Azura, entretanto, sorriu.
- Fiquei com medo de não te ver mais, amigo - Azura estendeu a mão para cima, como de costume, e Torahk encostou o topo de sua cabeça ali, como se encontrasse paz com a proximidade. - Mas é um louco desvairado de aparecer assim.
O glorioso dragão soltou o bafo quente pelas narinas, como se risse. A garota acariciou-lhe o pescoço e o acompanhou na risada. Parecia que ele a entendia.
- Como Shiro - seus devaneios voaram ao cochichar para o animal. - Negro como Shiro, indomável como meu amigo. Será que é por isso que me segue?
Àquelas palavras que saíam de sua própria boca, sua intuição gritou. Seus ancestrais lhe responderam. Aquela alma, naquela criatura tão assustadoramente pacífica e desprendida, já a conhecia de uma vida recente.
- Está falando com isso? - Frey balbuciou, de longe.
Azura ignorou o termo. Ela nem ao menos olhou para trás ao respondê-la. Preferiu olhar para cima, para o companheiro que vinha de outras vidas.
- Acredita em reencarnação, Frey?
Ela não ouviu a resposta. Do mesmo modo que Torahk veio, se foi, tão rápido quanto, ainda mais magnífico. Sua visita foi como se lhe dissesse: estou aqui, Azura. Sempre estive.
A petrichoriana sentiu o coração aquecer. Shiro sempre esteve ali.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasíaEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...