A vida não é mais que um súbito piscar de olhos e aquele mórbido pensamento lhe tirava de seu cerne. A crisantiana tentava não pensar em detalhes como aquele, mas era inevitável divagar sobre a fragilidade da vida quando, a qualquer momento, qualquer cena que decidisse brotar dos próximos arbustos em frente a eles poderia lhes tirar aquele bem tão precioso.
Nafré estava anestesiada, não sabendo se por falta de um sono devido ou pela fome que lhe roncava o estômago há horas.
Aquele pequeno grupo andara por horas ininterruptamente, até os pés cansarem e os músculos das pernas gritarem de exaustão. Acompanhavam o ritmo de um ferido Isaac, que não ousou reclamar do ferimento da perna por um segundo sequer, por mais que a dor lancinante fosse algo difícil de se acostumar.
Revezavam entre si os mais novos nos braços e tão míseras palavras foram trocadas no decorrer daquele dia que a morbidez do Bosque das Lamúrias invadia suas mentes vazias.
- Vamos morrer aqui - Nafré não gostava de ser pessimista, mas aquele pensamento tropeçou para fora de sua boca. Achou melhor verbalizá-lo que continuar com aquele silêncio ensurdecedor.
- Não vamos, não - Carú impacientemente respondeu-a, andando em sua frente, sem se voltar para trás.
O sol já ameaçava deixá-los e o frio do bosque os saudava aos poucos, rodeando-os como presas fáceis.
- Devíamos descansar - Isaac comentou, com a voz cansada e controlada. Coli cedera ao cansaço e dormia pesadamente no ombro do desconhecido. - Estamos com fome. As crianças, principalmente.
Carú voltou-se para trás e inspirou pesadamente.
- Certo. E vai dar o que de comer para essas crianças? Para o bebê?
Gaia fuzilou-a, com ódio carregado que se intensificava com as olheiras pesadas. Kaha chorava de fome, de frio. O que lhe restava era dormir. Gaia não conseguia ajudar aquele ser humano tão pequeno e cada grito do príncipe lhe atravessava os ouvidos como agulhadas dolorosas.
- Eu não tenho ideia, Carú - controlou-se, apesar do tom agressivo. - Mas eu penso melhor de barriga cheia.
- Certo, então - Isaac rodou a faca em mãos. Devolveu Coli para os braços da mãe. O pequenino apenas resmungou. - Acendam uma fogueira. Vou achar algum animal.
- Não sabemos acender fogo, Isaac - Nafré cruzou os braços, ainda mais mal humorada que Kaha, se fosse possível. - Só você sabe.
- Não é difícil. É só...
- Eu vou - Nafré tomou a faca de suas mãos, interrompendo-o.
- Ei, espera! - Gaia protestou o afastamento da irmã.
Nafré olhou para trás. Por mais que estivesse irritada, não queria matar o pouco relacionamento bom que estava tendo com a irmã mais velha.
- Sabe que vou ficar bem - Nafré sorriu. A loira desapareceu pela mata, procurando por alimento. Sabia que se daria bem sozinha.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
خيال (فانتازيا)Era curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...