Odile reuniu-os ali, todos eles, uma última vez. Queria um lugar privado em que não fossem interrompidos e pensou que ali fosse o melhor para isso. O sol que entrava pela janela era mais calmo do que o do meio-dia e agora desenhava nas nuvens com pinceladas púrpura e douradas.
Fecharam o espaço, aquele gigantesco teatro que era palco do entretenimento da corte e dos afortunados de Crisântemo em tempos não tão distantes. Reuniram-se no saguão gigantesco e bem ornado com sancas decoradas e grandes pilastras coríntias.
Eram muitos agora, mas menos do que gostariam.
Azura e Kohan estavam lá, sentados um de cada lado da roda. Viorica e Alaric discutiram ficar longe daquilo, o que quer que fosse, mas a curiosidade gritou mais alto. Aurèlia estava lá. Caiden também. Se entreolhavam hora e outra, procurando entender o que se desenrolaria ali. Lírio sentou-se só em um canto e seus olhos não desgrudavam de sua rainha. Nafré e Gaia estavam lá. Tereza e Gisèle também. E Dante. E Carú.
E só.
Eram menos do que esperavam.
- E os de Cinzas? - Azura indagou para ninguém em particular. - Holga, Lilo...?
Os olhos de Caiden encontraram os dela e o homem apenas balançou a cabeça. Ficou claro. Os que não estavam ali foram engolidos pela guerra. E eram muitos.
Aurèlia sentiu falta do pai e de Frey, mas segurou as lamúrias. Era Cássio quem começava tudo aquilo. Na Pedreira, uniu-se a Jacquelin, que também se fora. Deram longos minutos de silêncio pelos que não chegaram até aquele momento.
- O que vamos fazer agora? - a voz de Viorica soou pesarosa e a mulher logo arrependeu-se. Pensou que não estivesse em condições de dar início à conversa, mas concluiu que, se estavam todos ali, estavam todos no mesmo barco.
- Não. Primeiro... - Carú mordeu o lábio, ansiosa. Recostou o corpo em uma das pilastras antes de continuar. - O que aconteceu lá?
Inevitavelmente, os olhares de Odile e Azura se cruzaram. Os outros alternavam-se sobre elas.
- Temos o direito de saber - Aurèlia incitou.
Azura concordou. Odile também.
A rainha começou sua história. Repetiu-lhes tudo o que contou a Nikki horas antes, mas dessa vez com mais calma e de cabeça erguida, omitindo detalhes que não mereciam ser expostos. E Azura contou o que enfrentou e como era Pouri. E em como matou o marechal. E Odile contou como enfiou uma faca no peito do rei. Mas não disse o quão difícil foi. Nenhuma das duas disse.
Estremeceram, todos, como se a sala esfriasse.
- E agora, rainha Odile? - Gaia a chamou, quebrando um silêncio tenebroso após tudo aquilo. - O trono ainda é seu.
- Não tem mais trono - Gisèle lembrou-lhes.
- É modo de dizer - Nafré falou. - Isso tudo o que ela disse... a gente já sabe. O trono ainda é dela. É por isso que o marechal se casaria com ela, é por isso que a mataria se fosse preciso. Enquanto estiver viva, o trono é dela.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...