Por mais que achasse que devesse descansar, a petrichoriana era incapaz de pregar os olhos. Sentia ainda o sangue fervilhando por suas veias.
Ela saiu daquela sala. Não queria ficar perto de Kohan.
Tomou a liberdade de explorar a casa térrea dos avós, esquecida pelo tempo no meio das florestas de Arande. Ela pensou nos animais que já habitavam ali.
Por mais que tentasse, seus passos não eram discretos. O piso de taco estalava sob seus pés a cada passo.
Azura alcançou a cozinha, como pretendia. Viu-se aliviada por finalmente estar sozinha.
O ambiente era vagamente mais claro que a sala onde estavam. Ela conseguia ver a mesa quadrangular com quatro cadeiras, um vaso onde um dia belas flores desabrocharam, uma pia e armários com a pintura descascando.
Sem ensaio, a garota abriu um por um. Estavam vazios. Ela nem ao menos sabia o que procurava.
- Aqui. - a voz de Ginevra a fez sobressair-se.
Quando Azura voltou-se para ela, Ginevra estava na porta da cozinha com uma pequena maleta em mãos. A bruxa colocou-a sobre a mesa.
- O que é isso?
- Deve estar tudo velho, mas... - Ginevra tirou de dentro da maleta um pequeno frasco de spray e bolas de algodão. - dá pra limpar isso aí.
Azura sorriu. As feridas abertas lhe eram aflitivas.
- Pode me ajudar? - a petrichoriana indagou.
Ginevra puxou uma cadeira para ela e outra para Azura a sua frente, a qual a amiga tomou.
- Vai ser só por hoje. - Ginevra continuou, evitando ao máximo cruzar o olhar com o de Azura. - Amanhã eu encontro algumas ervas na floresta e vejo o que posso fazer por você.
Azura pensou em agradecer, mas tinha muito mais entalado em sua garganta. Enquanto Ginevra limpava os ferimentos em seus braços, ela ousou colocar as palavras para fora.
- Eu sinto muito, Gine.
Ginevra nem ao menos a olhou. Azura sentiu o peso em seu coração. Seus sentimentos a assolaram também.
- Azura, eu não sei o que aconteceu. - a voz embargada voltou a acompanhá-la. - Meu pai disse que você me ajudaria a entender o que eu sou. Então, por favor, não me deixe assim no escuro.
Azura pegou nas mãos da amiga.
- Não vou deixar.
Ginevra soltou o ar por entre os lábios e limpou as lágrimas com as costas das mãos. Ela olhou para cima, tentando segurar o choro incessante.
- Alguma coisa aconteceu lá. - ela finalmente olhou nos olhos da petrichoriana. - E eu sinto... sinto alguma coisa diferente, Azura! Sinto como se alguma coisa tivesse nascido lá no fundo do meu peito ao mesmo tempo que me sinto tão morta por dentro!
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasiEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...