Azura viu quando eles entraram no palacete. Do peitoril da janela da torre teve a visão privilegiada de seu povo esgueirando-se como uma onda pelos portões que se abriam. O som das engrenagens se movimentando era melodioso aos tímpanos e até o cheiro do palacete queimando parecia perfume.
O vento balançou seus cabelos e trouxe com ele o carregado cheiro ferroso das ruas de Crisântemo.
Pensou em como ver os dias dali deveria ser lindo. O Mar de Pétalas era um traiçoeiro tapete. Até nisso a coroa era privilegiada. Naquele instante, com o céu vermelho cor de sangue, a petrichoriana só conseguia pensar em como aquilo tudo parecia um rio rubro prestes a engoli-los, nascendo lá do horizonte onde quase se afogou.
Ouviu passos. Sua cabeça rapidamente virou-se para o lado, como se lembrasse-se do risco que corria ali.
A adaga estava leve nas mãos, sedenta por sangue, mas Azura absteve-se. Pensou mais claramente. De nada valeria morta. Levaria quem importava com ela antes de morrer.
Escondeu-se nas sombras do passadiço, abaixada e esgueirada entre as colunas jônicas daquela ala. Viu quando os soldados passaram. Procuravam por algo, exasperados. Pareciam desesperados pelo que se desenrolava do lado de fora, por mais que pouco demonstrassem. Estavam focados em encontrar algo. Alguém. Foi quando Azura se deu conta de que estavam lá por ela. Não eram um ou dois, eram pelo menos uma dezena. Viram quando ela chegou, mergulhando no palácio, vinda dos céus e dos dragões. Não sabia que histórias ouviram sobre ela, mas soube, naquele momento, que ouviram.
Azura esperou que passassem. O cheiro do fogo queimando o palácio aos poucos fez com que se apressasse.
Vagarosamente, a petrichoriana levantou-se. Não tirou os olhos das costas dos soldados. Seus passos controlados e silenciosos deslizavam pelo passadiço e Azura sabia, cada vez mais, que estava perto de onde quer que fosse.
Pisando em ovos, encontrou as escadas. Um deles se quebrou. Logo no primeiro degrau um fardado lhe esperava, tão silencioso quanto ela.
Ela tentou silenciá-lo antes que este a denunciasse. A adaga afundou em sua glote, mas não sem antes o homem gritar, alarmando os que a procuravam.
O soldado morreu aos pés da escada, mas os outros ainda tinham uma caçada a cumprir. E sabiam onde estava a presa. Azura pôs-se a correr.
A petrichoriana praticamente voou pelas escadas, pulando mais de dois degraus de uma só vez. Sabia que não tinha chance alguma ao lutar contra eles sozinha. Lembrou-se de como quase não escapou da última vez que tentou, na Clareira. O ferimento no abdômen ainda doía esporadicamente para lembrá-la de que, apesar de sentir-se como, estava longe de ser invencível.
Ao chegar ao andar de baixo, o que primeiro a alarmou foi a fumaça que se alastrava por toda a ala. Esta era bem maior que a de cima e melhor iluminada. A luz entrava por todas as janelas escancaradas que emolduravam o lado de fora. A luz vermelha tornou-se outra vez sua maior inimiga.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...