O Deus Sonca abençoou as terras férteis de Petrichor com seus raios de sol fulgurantes naquela manhã, nascendo de entre as montanhas de TeAo e pintando os céus de um alaranjado revigorante.
Os petrichorianos acordaram assim que Sonca despertou-lhes com suas bênçãos, decidindo dançar mais um dia para eles.
Entretanto, a garota dos olhos cinzentos já estava desperta muito antes do amanhecer. Ali, nas fronteiras de Petrichor, em seu refúgio pessoal, atravessando os campos de lírios e as plantações de käfi, Azura mergulhava os pés descalços nas águas do Rio Ma'h. A garota prendeu os cabelos negros pendentes sobre os ombros com uma raiz de trepadeira e vislumbrou a paisagem que tirava-lhe o fôlego todos os dias - o Sol atravessando o nevoeiro rasteiro do Rio e refletindo em suas águas cristalinas, pintando a paisagem do céu em um reflexo infinito de seu esplendor.
Azura fechou os olhos.
Procurou por uma lembrança boa em seu âmago e a imagem de seu pai, Nero, ali com ela, dez anos atrás, a alcançou.
"- Feche os olhos, Azura. - Ele pediu com delicadeza.
A pequena, com seus dez anos, o obedeceu.
- O que sente?
- Como assim, pai?
- O que sente? - O Velho Nero insistiu.
Azura respirou fundo, procurando a resposta em seu corpo.
- Sinto frio.
- E o que mais?
A garota abriu seus olhos, vendo seu pai ali, prostrado a sua frente, com os pés dentro d 'água como ela e as famosas calças cor de terra dobradas na altura dos joelhos.
- Não está se concentrando, Azura.
- Não sei o que quer que eu faça, pai.
- Feche seus olhos.
Contrariada, a pequena o obedeceu. Ela ouviu os passos do pai se aproximando, sentiu sua presença.
Ele nada falou, deixando a filha mergulhar em ensimesmação. Azura surpreendeu-se quando, minutos depois, sentiu a ponta do dedo médio de seu pai tocar-lhe o centro de sua testa.
Azura se lembra de ter perdido o ar com a sensação de plenitude que sentiu.
- Aqui se concentra seu sétimo chakra, seu centro de comunicação com a sabedoria do Universo e a espiritualidade. - O pai despejou sua sabedoria. - Agora repito, o que sente, Azura?
- Sinto tudo. - A pequena murmurou.
Seu pai sorriu, ela percebeu mesmo com os olhos fechados. Ela sentiu as gotículas da água do Rio Ma'h tocarem-lhe cada centímetro do corpo. Sentiu o sol beijar-lhe a pele bronzeada, sentiu as pedras do rio sob seus pés, a energia correndo por suas veias, a pulsação de seu coração, a lágrima que involuntariamente escorreu de seus olhos ao perceber um mundo novo escondido dentro dela.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...