Azura voou escadas abaixo e suas lágrimas vinham com altas lamúrias, que ecoavam por aquele corredor escuro que deixava para trás com tanto pavor.
A petrichoriana sentiu o coração ameaçar saltar por sua boca. Só conseguiu parar quando caiu, pisando em falso, no piso plano que dava caminho à porta. Ela se esgueirou nela e respirou fundo, fechando os olhos com força e levando as duas mãos à boca para abafar os soluços.
Pensou em como estava assustada e em porquê.
Foi a primeira vez que concretamente viu um espírito. Ouvia-os, os bons, que assopravam em seus ouvidos nas florestas de Petrichor e sempre que ela precisava. Não sabia se eram os seus ancestrais ou os próprios filhos dos Deuses, mas eram bons. Sabia também que os espíritos de Pouri vagavam por aí, no Bosque das Lamúrias e dali para além, ela se lembrava dos relatos assustadores de Caiden.
Mas nunca conversou com um daquela forma.
Era dali que vinha o medo? De conversar com alguém já morto? Não fazia sentido. Seu pai acabara de lhe dar um abraço tão pouco tempo atrás. Por que chorava tanto?
Então, Azura sentiu como se uma mão tocasse o topo de sua cabeça com delicadeza. O choro cessou aos poucos, um arrepio gélido desceu dali por sua espinha como uma leve descarga de eletricidade.
Azura abriu os olhos. Não mais temia. Entendeu, então, de onde vinham as lágrimas. O medo tornou-se ódio. Os olhos de Shirley, daquele corpo sem vida apavorado que a fitaram antes de correr da cozinha para lá, lhe lembraram das últimas visões que teve de Petrichor sucumbindo. Shirley e todos os serventes eram também Petrichor. Eram Nero, Marin, Vera. Eram Ava, Bru, Arin.
Azura engoliu o choro. O medo tornou-se ódio. Ela irrompeu pela porta e cansou de esconder-se. Calou a voz da razão. A vingança era cega.
Lírio estava pronto para tudo. Sentia as dores, sentia a morte tão próxima a cada vez em que erguia a espada outra vez para lutar por sua vida. Esperava o fim, esperava a vitória, esperava tudo menos aquele abraço. Quando aqueles braços o envolveram, Lírio sentiu o calor da pele, o cheiro inconfundível do cangote, o anseio desesperado que escapou daquela boca e alcançou os pés de seus ouvidos. Em seus braços, Odile se encontrou.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...