Odile escapou pelos fundos da cozinha com Rose em seu encalço, que carregava um príncipe adormecido e alheio à guerra em que se meteram.
Para a sorte da rainha, conhecia cada centímetro daquele palácio.
Desceram por escadas espiraladas e estreitas de tijolos aparentes, abandonadas para os criados e por isso, pouco cuidada. O que importava para os olhos alheios era o que viam no saguão de entrada, e Odile agradeceu por isso. Esperava que aquela pequena escapatória lhes desse logo caminho para fora.
Elas saíram nas laterais do palacete, mas ainda não seguras, do lado de dentro. A todo momento, Odile olhava para trás para se certificar de que Rose e o filho estavam a acompanhando.
Travou o passo em um brusco segundo que poderia ter lhes rendido as cabeças.
Odile ouviu os passos rápidos e marchados dos soldados atravessando seu caminho e jogou-se, puxando Rose, para detrás de uma pilastra encoberta pela escuridão. Agradeceu que o filho dormisse como uma pedra.
- Para onde? - ouviu os gritos de um dos soldados. Quis espiar, mas conteve-se. As vozes estavam próximas.
- O marechal não deu as caras! - outro reclamou. Odile gostou de vê-los como baratas tontas.
- Derrubaram os portões - o peito de Odile se encheu de esperança -, precisam da gente lá!
- E quanto à praia?
- Deixe o Porto, aqueles lá não vão sobreviver.
As vozes sumiram vagarosamente, deixando apenas Rose e Odile sozinhas no escuro. A rainha percebeu que seguravam as mãos avidamente.
- Rose - chamou com um murmúrio quase inaudível -, siga o que combinamos.
Rose arregalou os olhos, por mais que a rainha não os visse. Estranhou aquela ordem individualizada.
- E você, rainha Odile? - a voz da mulher soou mais alta do que ela esperava.
- Vou para os portões.
- Está louca!
- Shiu! - Odile pediu, abaixando o tom da voz. - Vão precisar de mim lá.
- Mas...
- É meu povo, Rose - esboçou firmemente. - Agora, deixe meu filho em segurança.
- Como vamos sair daqui? - a mulher indagou, não querendo discutir com a autoridade.
- Siga minha deixa.
Rose ameaçou indagar qual seria a deixa, mas Odile não lhe deu tempo. A rainha correu pelo corredor exposto e Rose viu-se obrigada a segui-la. Não via a hora de sair dali.
Odile fez alarde, foi indiscreta, fez os soldados notarem-na sabendo que a ordem era sua cabeça em uma bandeja no quarto do marechal caso os planos não se perpetuassem. Eles não contaram com a agilidade dela para sumir. Perderam-se no palácio, tentando encontrá-la, sem perceberem que davam vazão para que uma das criadas fugisse dali com o príncipe pela porta da frente.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...