Se precisasse nomear, Azura chamaria aquele lugar de um sobrado. Eram pelo menos três casas, uma em cima da outra, ligadas como um labirinto por escadas desreguladas feitas de concreto mal aplicado. Subiram um lance das escadas, os sete, e mergulharam em uma casa com a porta aberta, alarmados caso tivessem que lutar.
Não foi necessário. A casa estava abandonada. Depararam-se com uma sala jeitosa, mas simplória. Um sofá, uma lareira com cinzas e uma mesa de centro sobre piso frio.
Azura e Alaric guiaram a rainha até o sofá, onde ela finalmente despencou e permitiu-se chorar como um bebê, por mais que tentasse segurar as lamúrias com tanto afinco que o peito doía. Não queria que a vissem daquele jeito.
Viorica rapidamente explorou a casa com uma faca na mão. Voltou com um copo de água e estendeu à mulher, abaixando-se em sua frente. Os soluços de Odile cessaram aos poucos.
Dante fechou a porta assim que Ginevra e Kohan passaram pelo batente. A dor ficou para o lado de fora, só um pouco.
- Obrigada - murmurou a rainha, recobrando a postura. Estava exausta.
- Não acredito que está viva - Kohan balançou a cabeça, tentando soar simpático.
- Que bom que está viva - Azura acrescentou, olhando fundo nos olhos inchados e avermelhados de Odile. - Lírio vai ficar muito feliz.
O rosto da mulher contorceu-se novamente em uma carranca emocionada.
- Nikki está bem? - indagou, o timbre falhando.
A petrichoriana concordou com a cabeça, sorrindo com o reverberar de, finalmente, uma boa notícia.
Odile jogou-se no sofá e cobriu o rosto, deixando o alívio anestesiá-la.
- Até onde sabemos - Dante decidiu por ser o estraga-prazeres, com o coração partido. - Estão na linha de frente.
- O que está acontecendo lá? - Ginevra rapidamente questionou, evitando que pensassem em seus amigos mortos no campo de batalha.
- Os soldados são muitos - a rainha respirou fundo, sentindo a dor minorar na altura da garganta. Fechou os olhos, recompondo-se. - Serão uma barreira impenetrável para o centro, que dirá o palacete. É o plano de ação. São treinados para isso.
Silêncio.
- Teria sido útil ter tido você lá quando bolamos um plano - a sentença da bruxa soou quase como uma repressão.
Me desculpa se me arrastaram, a mim e ao meu filho, de onde eu queria estar. A rainha engoliu as palavras rudes e debochadas. Desculpa mesmo se eu não estava lá. Aqui estava muito divertido nas mãos do marechal.
- Está aqui agora - Azura percebeu a tensão gerada. Os olhares caíram sobre a rainha outra vez, estirada no sofá com as mãos delicadamente repousadas no pescoço, segurando-o como se este fosse cair. Depois de tudo, não tinham razão nenhuma para desconfiar dela. - Nos diga, então. Como fazemos para continuar?
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...