Düran já não estava mais tão certo de sua decisão. Talvez não estivessem tão bem na Pedreira, mas apostaria sua única tocha que estavam melhor do que eles por lá, caçando na escuridão e no silêncio sem nem saberem o porquê de tanto alarde.
Seus passos eram lentos quando queria que fossem rápidos, mas já sentia-se exposto demais em meio ao terrífico e completo breu daquele corredor sem fim, labiríntico. O único som que ouvia era o de seus calçados contra o cimento frio e sua respiração entrecortada que envergonhava a si próprio, conotando um medo que não queria ter. Ladeado por portas fechadas e trancadas, sua curiosidade apenas aumentava e já não sabia se andava em círculos. Seu lado paranóico temeu também que logo os outros encontrassem Azura e Bron e o deixassem ali por qualquer motivo que fosse.
Enquanto seus devaneios mais o assustavam que distraíam, teve certeza de ter ouvido um som fino ecoar pelo corredor até chegar aos seus ouvidos. Seus pés pararam bruscamente e Düran apurou sua audição. Ouviu outra vez, depois outra. Era um som ritmado e constante que ele logo identificou. Sua mente pinçou uma memória não tão distante de dias chuvosos em Petrichor.
Uma noite ele acordou de madrugada com uma tempestade a bater em sua janela, mas não foi o que lhe despertou. Sentiu uma gota de água gelada pingar bem na ponta de seu nariz. Düran esfregou os olhos até ver a infiltração logo sobre sua cama. Durante a noite, foi obrigado a mudar sua cama de lugar e colocar um balde sob a goteira. Voltou a dormir com aquele som, o mesmo som que ouvia agora. Gotas de água pingando, ritmadas. Não pensou que aquele som tão inocente pudesse um dia assombrá-lo. O petrichoriano tornou a andar e, a cada passo que dava, ouvia com mais nitidez as gotas de água pingando. Seguiu-as sem pensar, apenas arrependendo-se quando um cheiro inebriante alcançou suas narinas. Ele logo as tapou com o antebraço. O cheiro de podridão não significava nada bom e ele sabia. Era o cheiro da morte.
Um arrepio percorreu-lhe a espinha e Düran obrigou-se a continuar. Não queria continuar. Queria voltar correndo como uma criança assustada para o lado de fora e esperar por lá. Mas não. Azura precisava dele.
A tocha oscilava em sua mão e temeu que logo a escuridão o engolisse. Com a ameaça de seu coração saltar pela boca com o nervosismo, Düran continuou em frente, persistindo, até que outra cena tirou-lhe a coragem. Suas pernas bambearam quando um escarcéu de sangue viscoso entrou no foco da luz. O petrichoriano estremeceu. Aquele sangue era recente. Ele o contornou quando viu que o rio vermelho continuava e seguia um caminho. Tremendo e não ousando tirar o braço da frente das narinas, contornou o sangue e seguiu o trajeto, torcendo para que aquilo não significasse o pior. Sua mente fértil lhe mostrou o pior diversas vezes, mas ele não estava pronto para o que viria. O sangue descia até um vão, de onde pingava para o andar de baixo. O som da goteira da chuva em uma inocente noite em Petrichor já não lhe traria memórias tão agradáveis. Sua curiosidade foi mais forte que seu medo. Düran seguiu a trilha do sangue até descer uma escada e outro som sobressaiu-se à goteira. Um que ele nunca esqueceria, somando por uma visão que assombraria seus pesadelos até seu último dia, assim que chegou aos pés da escada.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...