Acordou de um sono gostoso onde o sol encontrava o horizonte nas praias de Arande em um dia de brisa agradável e fogueira no quintal, com direito a peixe frito de Honda e os micos de um dos irmãos bêbados.
Vagarosamente, Azriel abriu os olhos. Demorou a lembrar onde estava, percebendo aos poucos que aquele colchão estirado no chão e os lençóis em que estava envolvido tinham um cheiro agradável que lhe era familiar. A chama ainda iluminava o quarto. O arandiano sentiu que dedos delicadamente brincavam com as pontas de seus cabelos. Ele voltou-se para o outro lado e viu Dante distraído, fumando um cigarro e sentado no colchão ao seu lado, perdido em pensamentos distantes e indecifráveis e ainda nu, coberto até a cintura pelo mesmo lençol. Despertou de seus devaneios ao ver que Azriel acordara e lhe abriu um confortável sorriso.
Azriel corou ao retribuí-lo.
- Dormiu bem? - Dante indagou.
- Como um anjo - Azriel espreguiçou-se e se endireitou, prostrando-se ao seu lado, sentado. Roubou o bolado aceso das mãos de Dante e o tragou com gosto, sentindo falta das escapadas que dava em Arande para encontrar com amigos e fumar nas pedras da orla. - Por quanto tempo eu dormi?
- Uma hora? Talvez.
- Pareceu bem mais.
Lado a lado, sentiram o desconforto da intimidade pós-sexo, as palavras que não saíam, a vergonha.
- Se não tivesse acabado comigo, seria mais fácil te agarrar agora - Dante brincou. Seu rosto corou.
- Qual é, está com vergonha de uma transa? - Azriel lhe devolveu o cigarro. - Não parece a sua cara.
- Eu pareço o quê? - Dante o provocou, olhando-o pelo canto dos olhos.
- Confiante - o arandiano respondeu imediatamente. - Deve ser esse piercing aí no nariz.
- Deve ser porque eu sou. Achei que você fosse tímido.
- E quem disse que não sou?
- Qual é, eu vi o que você faz.
Os dois riram. Queriam ter se conhecido antes.
Batidas na porta da frente interromperam a conversa fiada. Eles se entreolharam. Por um lado, agradeceram o corte do clima inibido. Por outro, ouviram as batidas na porta intensificarem-se, como se desesperadas. Temeram o que poderiam encontrar do outro lado.
Rapidamente, Dante e Azriel se vestiram.
- Já vou! - Dante gritou ao incessante indivíduo, fosse quem fosse, que não lhe deu ao menos uma pausa naquele minuto.
Dante bufou e atravessou a casa até a sala, escancarando a porta da frente e esquecendo-se da máscara improvisada. Ameaçou voltar para pegá-la, mas seus olhos encontraram um rosto familiar com uma expressão que nunca antes vira ali. Lírio carregava uma tocha acesa em mãos e as lágrimas que banhavam seus olhos podiam ser claramente identificadas, refletindo o calor amarelado e dor.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasiEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...