Roto estava no salão de treinamento assim que o sol nasceu, como de costume.
Sentiu como se devesse estar cansado, mas não estava. Mesmo a noite passada, na qual o Oráculo de Maloo esfarelou-se até a morte à sua frente, não fora o suficiente para abalá-lo.
Ele era o marechal da guarda de todo o Vale de Awa, braço direito do próprio Rei Sohlon. Já estava mais calejado para a vida do que gostaria.
Raramente o homem via-se surpreendido. Naquela manhã, por outro lado, ao ouvir o som das portas do salão se abrirem, deixou seu queixo cair com a visão.
Ao invés de Sohlon, seu amigo e rei, o qual partilhava o treino de armas todas as manhãs, o perfume de Odile entrou primeiro no recinto.
A rainha não exibia as vestes de sempre - os vestidos deslumbrantes, a maquiagem delicada e os ornamentos combinando com a coroa real. Desta vez, Odile estava com uma calça preta colada ao corpo e um sobretudo leve na cor vermelha, a qual lhe caía bem. Seus cabelos, normalmente soltos e deslumbrantemente esvoaçados, agora dispunham-se em uma trança bem feita que lhe caía sobre o colo.
Na bainha da calça, um coldre dourado guardava uma bela espada.
- Bom dia, Roto. - Ela o saudou.
- Minha rainha. - O homem a reverenciou, endireitando sua postura.
- Poupe-me das formalidades, homem.
- Onde está Sohlon?
- Ele não virá hoje. Deixei-o com o filho.
- E... O que faz aqui? - O marechal questionou, erguendo uma sobrancelha. A simples presença de Odile o deixava nervoso, fosse pelo fato de ela ser incrivelmente intimidadora, seja por ter o corpo mais bem esculpido que ele já vira em toda sua vida.
- Hoje seu compromisso é comigo, Roto. - A rainha se aproximou do homem.
- E o que quer que faça, Odile? - Roto sentiu vontade de recuar à aproximação da mulher, mas conteve-se.
Odile parou a um palmo de distância do marechal, sorrindo ao vê-lo nervoso.
- Me acompanhe. - Foi tudo o que ela disse antes de retirar-se da sala.
Só os Deuses sabem o quanto Roto torceu para que Odile parasse de provocá-lo. A carne era fraca, sabia, assim como sabia que sua cabeça seria a primeira a rolar caso qualquer um tivesse acesso aos pensamentos tão impuros que se passavam por sua cabeça quando aproximava-se da rainha.
Montada no melhor cavalo de seu estábulo, Odile trotou em direção às colinas da Cidade de Crisântemo. A poeira que seu cavalo deixava na trilha de terra asfixiava Roto, que não conseguia acompanhá-la.
A rainha deixava que seu rosto e busto fossem banhados pela luz do dia. A liberdade de cavalgar à toda velocidade era anestesiante. Ela fechou os olhos e deixou que o animal a guiasse.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasiEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...