Depois de tanta dor que a assolava como um mar em fúria, uma onda atrás da outra sem piedade, Azura sentiu que aquele era seu merecido momento de respiro.
Antes mesmo de abrir seus olhos, ouviu o cantar dos pássaros anunciando uma manhã calma e iluminada por Sonca, cujos vorazes raios, mesmo àquela hora da matina, já despontavam sobre os sobreviventes tão avidamente que pareciam querer respingar neles um pouco de esperança.
A petrichoriana sentiu o corpo subir e descer, recostado no peito nu de Kohan. Sua respiração ritmada melodiava junto com seu coração. Azura sentiu as pontas dos dedos do homem em seus cabelos negros, enrolando e se desenrolando, perdidos em um achado único.
Kohan sorriu ao vê-la abrir os olhos, olhando para ele com uma mescla de constrangimento e calmaria. Ele a compreendeu, mas pouco se importou com vergonhas naquele momento. Permitiu-se perder sem acanhamento, finalmente, nas intrigantes orbes acinzentadas daquela garota.
- Isso é... - procurou pelas palavras certas - estranho.
- Estranho?
- Um estranho bom.
- Você é péssimo nisso - Azura riu.
Kohan corou.
- Você entendeu.
- Mas quero que me explique - a petrichoriana o provocou, vendo suas maçãs do rosto ruborizadas.
Kohan riu e a puxou para mais perto. Estavam incrivelmente confortáveis naquele canto, sob a cumplicidade de uma árvore escolhida a dedo dentro do Bosque das Lamúrias. Sua mão delicadamente puxou o queixo dela para ele, fazendo-a olhar em seus olhos de perto.
- Eu só não entendo. Não ainda - não estavam na melhor situação para rotularem o que aquilo fora. Carnal, físico, sentimental, emocional, ou uma grande miscelânea. - Posso ser um sonhador, mas sinto que essa guerra acabará logo.
- É no que quero acreditar também - a petrichoriana sussurrou.
- Enquanto isso, só levamos as coisas como estão.
- Gosta de como as coisas estão, Kohan?
- Quando você não me tira do sério... - o homem riu.
- Cale a boca - a garota o zombou, colando delicadamente seus lábios nos deles. - Adora quando te tiro do sério.
Azura não conseguiu desgrudar seus olhos daquelas íris que tão profundamente pareciam ser capazes de enxergar seus mais escondidos segredos.
Kohan já sabia o que queria há algum tempo, por mais que demonstrar não fosse um de seus fortes. Sabia também que aquela garota era única e que, se quisesse conquistá-la, faria no tempo que ela lhe ditasse.
Azura sorriu para si mesma. A atração física lhe moveu na noite passada. Kohan era um homem atraente desde que ela o conhecera, mas nem sempre foi flor que se cheirasse. Ela lembrou das discussões, das ameaças, das culpas jogadas sobre ela, das vontades que tinham de se matar mutuamente. Até aquela noite, achou que aquela briga de gato e rato não era nada mais do que isso, uma afronta de personalidades difíceis de concordarem.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...