Era curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos.
Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...
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Azura não entendia como poderia estar praticamente correndo atrás da figura de seu pai pelas familiares florestas de Petrichor e nunca alcançá-lo.
- Pai! - sua voz soou falhada. Ela o perdeu de vista. - Pai!
A petrichoriana ainda conseguia ouvir os gritos distantes que ecoavam sombriamente pelas árvores. Os gritos que gritavam seu nome.
- Pequena Azura?
Com os olhos arregalados de pavor e confusão, Azura voltou-se para trás, em direção à familiar voz que a chamava.
Nero estava próximo dessa vez. Apenas de olhá-lo ali, parado em sua frente, inteiro, vivo, lágrimas brotaram nos olhos da petrichoriana. Um soluço arrastado rasgou-lhe a garganta quando ela se jogou nos braços do pai.
Nero a tomou no abraço, passando as mãos pelos cabelos negros da filha como fazia quando ela era mais nova.
- Pai? - por entre soluços, a garota indagou. - Onde você está?
A pergunta enrijeceu os músculos dos braços de Nero, Azura percebeu. Ela olhou para cima. Seu pai não mais a olhava. Ele soltou-a e deixou que Azura tombasse com os joelhos na terra, desamparada.
Azura viu o pai afastar-se. Algo estava errado, ela sentia.
- O que você se tornou, Azura? - as palavras cortaram o coração da petrichoriana.
- O que quer dizer, meu pai?
- Eu te criei bem, minha filha. Lhe ensinei tudo o que sei - as palavras saíram pesarosas da boca de Nero. - Como pode ter se tornado esse monstro?
Azura levantou-se, mas Nero deu um passo para trás.
- Por que me chama de monstro, pai? - ela engasgou com as próprias palavras.
- Não posso nem mais chamá-la de filha, Azura de Petrichor - como centenas de agulhas, as palavras do pai atravessaram o coração da petrichoriana. - Você destruiu nossas terras. Destruiu as terras de nossos ancestrais. Comprou uma guerra vã e deixou que todos nós perecêssemos. A que custo, Azura? A que custou tirou vidas? Onde estava quando precisamos?
- Eu fiz o que me ensinou, meu pai - as palavras arrastadas e embargadas saíram de Azura. - Eu protegi os meus.
- E que belo trabalho fez, petrichoriana.
Azura não queria acreditar que aquele era seu pai, mas as vozes em sua cabeça a inebriavam. Cada palavra daquele homem a machucava profundamente.
- Se não fosse por você, hoje estaríamos juntos. Eu e você, lutando à beira do Rio Ma'h, tomando um käfi no fim de uma tarde chuvosa e compartilhando da vida com nossos amigos. Mas não.
Nero atravessou o caminho entre os dois em segundos, levantando o queixo da filha para ele. Ele tirou os cabelos da filha do rosto como costumava fazer, mas dessa vez, suas palavras não foram sábias ou carinhosas.