A arandiana subiu as escadas de ferro geladas e adentrou a escuridão. O breu era tanto que a luz não vinha de cima ou de baixo e nem ao menos as próprias mãos conseguia enxergar, guiando-se pela memória motora e alcançando um degrau de ferro após o outro com as mãos e pés sincronizados. Não tremiam, como achou que fariam. Viorica não sentiu medo algum.
A primeira menção de que estava chegando foi a balbúrdia que chegou aos pés do ouvido, iniciando como um murmúrio distante e aumentando conforme aproximava-se, os braços e pernas começando a fraquejar ao subir a escada infindável. De repente, a luz vermelha do céu de Pouri alcançou suas mãos. Ela parou por um segundo, assustada, mas retomou a postura e continuou.
Viorica foi a primeira a chegar ao templo. Colocou os olhos atentos para por de cima da plataforma onde findava a escada e observou ao redor. O templo era majestoso, bem maior do que ela esperava. Bem maior que o de Arande, onde costumava rezar quando a vida cobrava. Estava vazio. A luz vermelha que o Deus das Trevas projetara no céu invadia os vitrais e desenhava sombras macabras nas paredes e piso. Ela puxou-se para fora.
Um a um, os sobreviventes saíram de dentro do quadrado no piso, no canto ao lado direito do altar aos Deuses. Assim que Dante passou, por último, o quadrado fechou-se, levando embora qualquer resquício dos túneis e da magia que escapou por entre seus dedos. Ginevra fuzilou a rainha, que soube de imediato o que a bruxa pensava. Não lhe tirava a razão. Não tinha como compensá-la pelo mal que fez aos seus iguais, por mais que prometesse tentar. Uma conversa para se ter outra hora.
Esconderam-se nas sombras aos sons da movimentação do lado de fora. Os soldados e serventes estavam esbaforidos, correndo de um lado para o outro. A chuva ainda não dera trégua alguma.
Pela luz que invadia o ambiente, conseguiram entreolhar-se.
As palavras de Kohan ainda corriam pela cabeça de todos. É uma missão suicida.
- O que estamos esperando? - Alaric murmurou. Alcançou a mão de Viorica na escuridão, tímida e automaticamente. - Vamos abrir os portões.
- Não pode ser tão simples, Ric - a mulher achegou-se nele.
- Não precisa ser tão difícil - a rainha cochichava. Voltou-se para Ginevra. - Consegue nos ajudar?
Ginevra quis gritar com o ódio que sentia. Hipócrita!, quis xingá-la, mas segurou-se. Agora minha feitiçaria é útil pra você.
- Do que precisa? - sentindo-se fraca, engoliu as injúrias e indagou.
- Preciso que seja nossos olhos.
À princípio, a bruxa não entendeu, mas acabou por ler nas entrelinhas. Concordou com a cabeça.
- Posso fazer isso.
- Tem algum plano? - Dante questionou, querendo ajudar.
- Sim - a bruxa mordeu o lábio -, e vou precisar de vocês.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...