A adrenalina batia forte em seu peito e Azura sentiu-se insana quando sorriu. Um sorriso breve, mas que despontou ali em seus lábios com gosto de sangue, escondidos, assim como ela, pelo breu da torre na qual adentrou. Fechou a porta quando passou e sentiu o impacto das flechadas no ferro espesso atrás de seu corpo.
Queria correr para longe dali, mas já não sabia se o escuro era seu aliado. Sabia como costumava ser traiçoeiro vez ou outra.
Nem mesmo a luz vermelha do céu lá fora adentrava o que ela achava ser um pequeno cubículo. Conseguia ouvir o som da própria respiração ecoar e voltar em paredes próximas, assim como o ar que escapava de sua boca entreaberta. Sentiu-se enclausurada. Fechou os olhos, por mais que não tivesse certeza se o fez. Pressionou-os e recompôs-se.
A adaga pesou em mãos. Sabiam que estava lá, exatamente ali, e precisava ser rápida para despistá-los antes que viessem por ela. Não demoraria. Os soldados estavam limitados aos muros do palacete. Ela ainda tinha tempo. Tateou com pressa as paredes até encontrar uma maçaneta. Girou-a. Estava aberta. Escancarou a porta e a luz de tochas entrou em cena, iluminando uma escadaria que descia para mais escuridão. Não hesitou em tomar uma tocha em mãos e correr as escadas como se voasse, não deixando que o som de seus passos fosse ouvido. O palacete era agora um labirinto, mas ela tinha truques escondidos nas mangas.
Lembrou-se com carinho do pai no dia em que sua vida desabou. Naquela manhã tudo era calmo. Era seu aniversário e as bodas de Sonca e Marama. Azura ganhou uma adaga com um dragão no cabo que tanto parecia Shiro. Estava então sujo de sangue inimigo por entre os dedos que pressionavam fortemente a empunhadura gelada. Naquela manhã em que o Sol de Sonca ainda beijava-lhes a pele em tons alternados de laranja e púrpura, Nero ensinou-a do que ela era capaz quando deixava-se ser guiada. Não eram só os instintos, era a pura energia que a cercava. Os espíritos estavam ali por ela, andando juntos pelo palacete. O palacete podia ser um labirinto, mas ela estava convicta de que a voz em seu ouvido tinha a resposta para aquele enigma. Não importava onde estivesse, Azura sentia o rei cada vez mais perto. Girou a adaga entre os dedos.
De início sentiram-se estúpidos. Kohan, Alaric e Odile seguiam um rato. Não parecia fazer o menor sentido, por mais que Ginevra tivesse lhes contado tudo em detalhes mais de uma vez. Todavia, quando as mãos da rainha tocaram a maçaneta da catedral, sentiu-se muito mais segura por saber que a bruxa lhes ajudaria. Tinha uma dívida a cumprir com ela, fez uma nota mental.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...