- Kohan! - Azura gritou ao segurar seu tronco. O arandiano pesou sobre seus braços feridos e ela o deitou no chão, com esforço. A chuva não os ajudava ali. A petrichoriana passou as mãos pelo rosto do homem e aproximou-se para sentir, com alívio, sua fraca respiração oscilar por suas narinas. - Vamos, acorde!
Azura rapidamente guardou a dor excruciante em seu braço direito ao inspirar profundamente. O desespero escapou de sua garganta, por mais que tentasse contê-lo. Estava sozinha, no escuro do Bosque das Lamúrias e, se não encontrasse ajuda, Kohan morreria em seus braços.
Ignorando os cabelos molhados que colavam em seu rosto, a garota passou o braço bom por baixo do tronco de Kohan e o levantou, arfando com o esforço. Ela viu quando aqueles olhos abriram.
- Kohan - murmurou ao apoiar a cabeça do homem em seu peito -, me ajude, por favor.
Azura viu o esforço que o homem fazia para manter-se acordado. Ele lentamente jogou um dos braços ao redor dos ombros de Azura e ajudou-a a levantá-lo.
Kohan era consideravelmente maior e mais pesado que a petrichoriana. Ela, no entanto, ignorou todas as probabilidades e arrastou-o o quanto conseguiu, seguindo a direção em que os outros rumaram e orando para que Puipuiga os ajudasse.
A dor em seu antebraço alastrou-se, como se além da carne dilacerada, seus ossos estivessem em frangalhos. Azura gritava a cada passo que dava, carregando um Kohan apenas parcialmente consciente.
- Gine! - a petrichoriana gritou para a escuridão, mas sua voz foi abafada pela tormenta. - Estamos aqui!
Sua voz falhava aos poucos e sua visão embaçava, em uma distorção que ia além da fúria da cascata que caía dos céus. Os raios que os iluminavam frequentemente a faziam ter certeza de estar completamente sozinha.
- Nos ajudem! - Azura gritou, antes de sentir o corpo de Kohan relaxar por completo. Não aguentando o peso, o homem voltou ao chão e levou a petrichoriana com ele.
Azura o viu insconsciente e sangrando.
- Não, Kohan... - ela chorou ao arrastar-se para seu lado. - Abra os olhos...
O peito de Kohan subia e descia devagar, como se já tivesse desistido. Azura não podia deixá-lo morrer ali, daquele jeito. Entretanto, ao tentar levantar-se, sentiu a agonia espalhar-se pelo braço. A dor a cegou e ela gritou. Sentiu a pressão ir embora, junto com o sangue de seu corpo. Não sabia quanto do líquido já perdera, mas sabia que o suficiente para não conseguir manter-se sã naquela jornada. Seu corpo tombou ao lado do de Kohan e seus olhos ameaçaram fechar-se como os dele. Teve uma última visão quando um raio próximo caiu ao seu lado. A luz branca da fúria dos Deuses mostrou-lhe alguém correndo em sua direção. Logo antes de perder a consciência, teve certeza de delirar. Viu o rosto familiar de alguém com quem crescera.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasiEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...