108. Corpo Vazio

20 6 14
                                    

Ginevra não pensou demais

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ginevra não pensou demais. Confiou na bruxa que se tornara em tão pouco tempo.


Os irmãos pareceram se esquecer de que ela também mergulhara naquela missão suicida. Sua audição era ainda melhor que a deles quando confinada àquele corpo do roedor. Não sabia se os instintos do animal somados aos seus lhe disseram o que precisava saber, mas fez bom uso da situação. Soube quantos soldados estavam lá dentro, quão grande era a sala e soube, sem precisar pensar demais, em tudo o que faria.

Sua audição era tão boa que ouviu todas as palavras dos irmãos e da rainha. Sabia o que estava por vir e prometeu a si mesma que não assistiria presa dentro daquele corpo sem poder fazer nada. Soube também que tanto Alaric quanto Kohan morreriam sem ela.

Deixou o corpo do rato sem vida e retornou ao seu.


A bruxa levantou de supetão e puxou o ar com força, como se tivesse voltado à vida. De certa forma, foi o que fez. Interrompeu o momento de Dante e Viorica, mas não se importou. Antes que eles pudessem lhe indagar algo, assustados, Ginevra saiu correndo pela porta do templo.

Ouviu os dois gritarem seu nome, mas não lhes deu atenção. Era uma corrida contra o tempo. Precisava chegar na sala antes dos irmãos tomarem drásticas decisões.

Lágrimas irrompiam de seus olhos e ela não soube dizer o porquê. Talvez já soubesse o que estava prestes a fazer.

Ginevra queria ter tido mais tempo. Estava cansada de lutar contra ele. Parecia que este, na verdade, era seu maior inimigo.

Quando chegou ao andar, certa do caminho, Ginevra sentiu sua energia irradiar de seu corpo. Foi como se toda a sua vida voltasse à ela. Não mais corria, a bruxa. Seus passos eram rápidos e determinados. Ela não olhou ao redor, para os soldados que se aproximavam. Não soube como, mas a raiva pareceu materializar sua aura. Os que aproximavam-se dela voavam pelos ares. As flechadas não chegavam, muito menos as espadadas. Ginevra destruiu tudo ao seu redor. De suas mãos, chamas despontaram.

Ela deixou que caíssem pelo chão. Por onde encontrou madeira, as tocou. As chamas ganhavam dimensão. Por um segundo, Ginevra sentiu-se invencível, mas sabia como aquilo acabaria.

Sabia os limites e perigos de sua magia.

Enquanto avançava, cega de fúria, uma lembrança tomou-lhe a mente. Foi quase como se estivesse ali presente para vê-la, como se deixasse tudo para trás e o palacete não existisse.

Na lembrança, ainda tinha sol. Sonca brilhava no céu e queimava sua pele. Ela nunca se importou, muito menos a avó, protagonista de sua visão. A avó mexia um caldeirão grande com uma mistura caseira e acrescentava as ervas que colhera junto com a neta naquela manhã. Naquela época, quando Ginevra ainda tinha seis anos, a vegetação dos fundos do quintal onde morava avó e avô era cheia e espessa, diferente de como encontraram meses antes. A avó lhe ensinou tudo. Vivia lhe dizendo, contra a vontade dos pais, que Ginevra um dia cresceria e seria uma bruxa forte.

Chamas de Petrichor {trilogia}Onde histórias criam vida. Descubra agora