Depois de tanto andarem, os Kinos estavam calejados. Andar não era difícil, o difícil era manter o passo e a cabeça erguida. Os estômagos já roncavam quando adentraram a tarde e assim permaneceram, seguindo cegamente a líder, filha do xamã.
Aurèlia, tão apreensiva, pareceu não cansar-se, com foco em chegar em algum lugar o quanto antes. Tudo ali lhe parecia um labirinto, mesmo que pudesse dizer que era habituada àqueles cantos. Estava longe de casa.
- Aurèlia - a voz de Dante a chamou em dado momento. A mulher olhou para trás. - Vamos descansar. O povo está faminto.
Os gigantes olhos de Aurèlia focaram nos dele.
- Sim, está certo. Mas vamos comer o que, Dan?
O grupo aos poucos parou, desaparecendo pela floresta adentro, sumindo de seu campo de visão.
Dante viu o estresse exibido no rosto da mulher. Ele aproximou-se e deu-lhe um beijo na bochecha.
- Descanse, certo? Deixe que cuidemos disso um pouco - com aquelas palavras e um sorriso caloroso, Dante afastou-se. Aurèlia imediatamente recostou-se no tronco da árvore mais próxima e respirou profundamente. Ela ouviu as ordens de Dante. - Povo, vocês sabem andar por essas terras. Sabem do perigo. Sabem do que os cantos escondem e, acima de tudo, sabem o que podem ou não comer.
Os olhares aos poucos recaíram sobre ele. Sua notícia era passada aos demais como um telefone sem fio. Dante prosseguiu:
- Duas horas, é o que temos de descanso. Achem algo para comerem, partilhem com os outros, sejam discretos e vamos nos encontrar aqui - o homem desembainhou uma faca e marcou o tronco de uma árvore com um X - em duas horas. Vamos seguir viagem.
- Aonde vamos, Dante? - a mulher o chamou. Dante procurou por ela em meio ao seu povo, reconhecendo-a por Bianca, mãe de dois pequeninos que não desgrudavam dela.
Com olhar esperançoso, Dante lhe respondeu:
- Achar um lugar seguro, querida. Não se preocupem com isso.
O magnífico dia que lhes raiou sobre as cabeças pareceu-lhes tão distante quando as nuvens carregadas tomaram todo o céu.
Ginevra ainda não dissera uma palavra desde que acordara, como se tivesse se esquecido como usar sua voz. Sentiu-se exausta, para dizer o mínimo, por mais que tivesse dormido surpreendentemente bem durante aquela noite. De braços cruzados e revezando o peso de pé para pé, não soube o que fazer quando pararam. Seu irmão foi o primeiro a aproximar-se dela.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...