Nafré apertou o pingente que guardava-lhe o peito. Não deixaria Mirza para trás. Ela voltaria com ele, lhe ditaria o caminho. Estava pronta para se jogar em algo que não conhecia, mas que achava estar pronta. A guerra. A impetuosidade humana. A carnificina.
A garota meneou por entre a multidão apavorada que tentava fugir dos soldados e pensou rapidamente em como uma crisantiana como ela, pequena e inexperiente, poderia ajudar. A ideia caiu-lhe dos céus. Ao seu lado, encontrou um poste de luz apagado, apoiado sobre uma plataforma de madeira de pelo menos dois metros, majestosa em ornamentos. Ela o escalou sem dificuldade e viu-se ali, acima de todos. Exposta, mas com uma boa visão. A chuva não podia mais cegá-la.
Os Deuses apontaram-no para ela. Apontaram Mirza em meio ao pandemônio. O homem lutava bravamente. Nafré armou o arco e flecha e mirou o meio da balbúrdia, destemida.
Antes que Mirza pudesse enfrentar aquele homem que partira para cima dele, viu uma precisa flecha atravessar a garganta do indivíduo, que caiu estupefato e sem vida à sua frente.
Mirza seguiu a direção de onde a arma disparara e deparou-se com aquela figura conhecida. Arfou ao ver Nafré ali, pronta para engalfinhar-se em uma batalha que não deveria - e ele sabia o motivo.
O homem determinou-se a sair dali com a loira. Mirza desbravou o mar de sangue de D'Ávila até alcançar o palanque em que ela se encontrava.
- Nafré!
A loira procurou por aquela voz e o viu parado ali, ao seu lado, com uma das mãos estendida. Ela rapidamente desceu de seu posto e sabia que ouviria muito dele depois. A garota saltou do palanque e tomou a mão de Mirza, volvendo a correr para o porto. Dariam um jeito de encontrar o caminho para o veleiro.
Ela não olhou para trás, já dando a luta como ganha, por hora. Mirza fez o mesmo e deixou a guarda baixar. Encontraram ali a morte a cheirar-lhes o cangote.
Nafré foi derrubada ao chão de pedra com uma forte ombrada. Os soldados os alcançaram, alcançaram o porto e o píer. Era uma questão de tempo e os crisantianos não conseguiram vencer aquela luta contra o relógio.
- Vamos, Nafré! - Mirza tentou amparar a garota do chão, embainhando novamente a espada que roubara.
A loira o viu se aproximar por trás de Mirza.
- Cuidado! - soltou um esganiçado grito de pavor.
Mirza rapidamente desviou de um golpe fatal, mas cambaleou. Nafré celeremente levantou-se e perdeu-se no mar de pessoas desesperadas e desalentadas, desesperançosas. Ela tentou novamente alcançar Mirza, mas só lhe restou assistir à cena, impedida pelo próprio povo de avançar.
Mirza tentou alcançar a espada, mas falhou. O que restava-lhe era desviar dos golpes daquele homem.
- Mirza! - Nafré gritou.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasíaEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...