- Ótimo. E vai fazer o que depois?
Ginevra deu uma demorada tragada no pequeno bolado de ervas entre seus dedos. Soltou a fumaça de dentro da garganta como se debochasse das palavras da petrichoriana.
Azura cerrou os punhos com certa força, sentindo as unhas cravarem-se em suas palmas. Não queria discutir com Ginevra. Não sabia se a garota fazia de propósito ou não, mas ela a provocava.
- Não sei, Ginevra. - Azura arregalou as sobrancelhas. - Eu não tenho pra onde ir! Esse... Esse merda me tirou tudo! Eu preciso vê-lo.
- E vai se vingar?
- Pare de falar assim.
- Assim como?
- Como se eu estivesse louca! - Azura se conteve para não gritar.
Ginevra bateu as cinzas do cigarro em um cinzeiro já posicionado esquematicamente ao lado de seu colchão. Em noites frias e solitárias, uma boa tragada a deixava menos melancólica. A bruxa respirou fundo.
- Não quis ser escrota, me desculpe. É só que... pense, Azura. Você é uma só. Uma garota que viveu a vida no bem-bom de uma terra que nem parecia fazer parte desse mundo que eu vivo e... vai sozinha enfrentar o rei da porra toda? O cara é calejado.
- Não disse que ia enfrentá-lo.
- E vai fazer o quê?
Azura fechou os olhos, apertando-os com força. Não queria admitir que a nova amiga - se é que podia chamá-la assim - poderia estar certa.
- Sabe o que me motivou a sobreviver quando eu não tinha mais nada pelo que viver? - Azura tentou manter a voz controlada, mas sentiu uma mistura de medo e sofrimento sair com cada sílaba.
Ginevra fixou seus olhos na petrichoriana.
- Estou ouvindo.
Azura soltou o ar pesado que a sufocava.
- Meu pai reservou suas últimas palavras pra mim. - Azura não conseguiu levantar o olhar. A simples menção à Nero arranhou suas cordas vocais de tal modo que se perguntou se conseguiria continuar. - Ele me entregou uma chave que fazia questão de carregar em volta do pescoço e me disse que eu encontraria respostas em uma caixa. Respostas à perguntas que nem sequer sei que tenho.
Ginevra observou o lábio inferior da garota tremer. Admirou sua força naquele instante.
- Sabe o que aconteceu com essa caixa, Ginevra?
- Está no mar.
- Sim, está no mar. Perdida em algum lugar ao lado de Morgana e eu não faço a menor ideia do que fazer agora. Eu esperava que, caso os Deuses me cedessem uma segunda chance de viver eu encontraria meu caminho com os segredos que meu pai escondeu de mim por algum motivo, mas... - Um soluço escapou novamente de sua garganta. Ela se perguntou se um dia a dor passaria. - Você está me fazendo perguntas que não sei responder, Gine. Está me perguntando o que farei depois sendo que nem sequer faço ideia do que farei quando esta noite chegar ao fim.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...