Odile ousou cavalgar tão veloz que sumiu do alcance da vista de sua criada.
A rainha subiu os mais altos morros de Crisântemo, inspirou profundamente e deixou que o aroma do mar inundasse seus pulmões que sofreram à noite toda com suas lamúrias.
Ela fugiu de tudo, assim como Gaia lhe dissera para fazer. Seu peito ainda doía e hora ou outra um soluço emergia do fundo de seu âmago.
A rainha rumou para a praia e fechou os olhos, deixando que o cavalo a guiasse. Não se importou com as gotas salgadas do mar a saudando. Pelo contrário, sentiu vontade de sorrir pela primeira vez desde o fatídico evento.
Odile abriu os olhos e obrigou seu cavalo a parar. Voltando-se para trás, viu sua criada há quilômetros. A praia deserta lhe trouxe memórias recentes.
A mulher desceu do animal e tirou as botas. Ergueu as calças de linho fino e entrou na beira do mar até as panturrilhas.
A rainha cruzou o braço. Fora ali que secretamente se encontrara com Roto para aprender a manusear uma espada com maestria e defender-se do que fosse necessário. Em vão. Não pôde salvar Kaha.
Ela engoliu o choro mais uma vez.
Gaia a alcançou, a rainha ouviu. A criada desceu do cavalo e sentou-se na areia, distante.
Odile não queria ser a rainha naquele momento. Ela deixou a visão do horizonte por um segundo para voltar-se para trás e sentar-se ao lado de Gaia. Ali as duas ficaram até a rainha quebrar o silêncio.
0 Posso lhe contar um segredo, Gaia? - Odile murmurou, sem olhar a criada. - Um segredo que eu nunca contei nem mesmo ao meu marido?
Gaia engasgou com a própria saliva.
- Minha rainha, eu não sei se sou digna...
- Ah, pelo amor dos Deuses, menina, não me trate assim. Eu não quero isso agora. Finja que não me conhece. Diga o que quiser. Aqui é zona neutra, pode ser?
Gaia concordou com a cabeça.
Odile voltou-se novamente para o horizonte, mirando o sol recém acordado que prometia escaldá-los assim que chegasse sobre suas cabeças. Ainda tinham algumas horas de uma luz dourada e gostosa.
- Quantos anos têm, garota? - a rainha indagou.
- Vinte e dois. - Gaia murmurou, abraçando os joelhos mais perto do peito.
Odile perdeu-se em suas lembranças.
- Eu era mais nova quando me apaixonei pela primeira vez.
- Eu nasci em uma família bastante rica. Nunca me dei bem com meu pai, mas minha mãe... aquela mulher era incrível. - a rainha arfou. - Eu ia todos os dias cavalgar com meu cavalo antes do sol nascer e a minha mãe me encobria. Meu pai odiava. Dizia que eu tinha coisas melhores a aprender e que logo seria uma dama com responsabilidades para com a sociedade.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...