Odile assumiu uma missão que aos olhos de terceiros era impossível. Para ela, não. Lembrava-se vagamente da mãe, mas algumas memórias eram cristalinas como água. Esta sempre lhe dizia que o impossível era uma questão de perspectiva. Se lhe dessem cinco minutos, faria o impossível acontecer.
Cinco minutos, Odile repetia consigo. Em o que se pareceram breves cinco minutos, a rainha moveu montanhas. Isolou doentes em suas casas com comida e água. Certificou-se de que Pöli ainda estava vivo e Celeste, estável. Como explícito nas palavras do livro negro da biblioteca, as colheitas pereceriam. Odile ordenou que separassem, estocassem e distribuíssem igualmente os alimentos da horta coletiva, sob supervisão das crisantianas. Para Isaac, arrumou uma tarefa diferente. O homem correu juntamente com o filho por ruas e ruelas atrás de ferreiros e começaram a se armar, armar um povo.
- Deveríamos fortificar as barricadas.
A rainha, sentada no mesmo palco onde outrora se expusera para a Pedreira, ouviu uma voz ao mesmo tempo doce e dura ao seu lado. Nem a percebera ali, a daviliana de cabelos loiros e olhos azuis como o céu em dias de esplendor de Sonca. Gisèle estava escorada em entulhos de madeira. Em suas mãos, afiava pontas de flecha como Caiden fazia. Nem mesmo era uma boa atiradora, apenas precisava ocupar a cabeça.
- Não deveríamos - Odile lhe respondeu.
- E por que não? - Gisèle não a olhou.
- Porque temos que sair daqui.
Imediatamente, a loira parou o que fazia. Subiu seus olhos azuis para encarar os esverdeados da rainha, que a fitava.
- Está ficando louca.
- Não estou - Odile balançou a cabeça. - Se isso acaba com o rei, não podemos ficar esperando sem fazer nada. Eles devem estar esperando nós morrermos aqui, isolados pela própria bolha que fizemos.
- E acha que ir comprar uma guerra com toda a guarda real vai nos dar mais chances? - Gisèle arregalou os olhos. - Prefiro morrer aqui.
A loira voltou para o que fazia, desviando os olhos dos da rainha. Odile não se importou com a descrença. Um sorriso singelo surgiu em seus lábios, mas a daviliana não o viu.
- O que está fazendo?
- Não precisa puxar conversa comigo.
Odile ergueu as sobrancelhas.
- Está fazendo errado.
- O quê? - Gisèle estressou-se.
- Não é assim que se afia uma lâmina.
A loira revirou os olhos e continuou o que fazia. A rainha levantou-se e se sentou ao seu lado, para o desconforto da daviliana.
- Posso te ajudar?
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...