A balbúrdia cresceu de Crisântemo para Pedreira assim que os soldados reais fizeram a primeira investida na barricada para levá-la abaixo.
Odile perdeu o ar. Seu medo estava se efetuando. Sohlon só podia estar enlouquecido. Acabara de concretizar uma guerra que se espalharia por todo o Vale de Awa.
A rainha pôs-se a correr juntamente com os pedreiros, afastando-se da barricada. Sentiu um forte aperto logo acima do cotovelo, seguido por um sacolejo que a desestabilizou. Em meio ao caos crescente dos nativos correndo para a direção oposta, fugindo de suas casas na calada da noite e clamando por socorro, Odile viu o soldado - outrora de sua guarda pessoal - segurá-la como se fosse sua prisioneira.
- Perdeu a cabeça, homem? - Odile vociferou ao encará-lo nos olhos.
Era gritante o medo que o soldado sentiu ao segurá-la com agressividade, mas sua sede por riquezas e aprovação de seu rei subiu-lhe à cabeça, pouco pensando que, se Odile decidisse por assim fazer, seu pescoço estaria degolado assim que pisassem novamente em Crisântemo.
- Não nos machucarão, rainha Odile - ele respondeu. - São nosso povo.
Odile viu com pesar os pedreiros posicionando-se, prontos para quando a barreira rompesse. Eles não tinham chance contra o exército de Sohlon. Contra seu exército.
A rainha viu quando a barricada veio ao chão. O mar de soldados reais do outro lado bradou uma vitória antecipada. Sabia, assim como o próprio povo da Pedreira, que os míseros comerciantes e agricultores não poderiam fazer nada contra eles.
Na frente do exército, uma figura conhecida os liderava.
Os olhos de Odile cruzaram-se com os de Roto. Ela sentiu seu coração ameaçar sair pela boca.
O marechal foi o primeiro a atacar, como se já soubesse que o sangue daquele povo seria inevitavelmente derramado naquela madrugada. Apenas o dos que lutassem.
Os pedreiros batalharam. Odile viu quando o homem que atendia por Kol partiu para cima de Roto. O marechal desviou de seu golpe de porrete mal dado e, com um único gesto, tirou a vida do homem mais forte que ele, rasgando seu abdômen de lado a lado.
Roto olhou novamente para Odile. Ela soube que precisava sair dali.
Odile sabia que seria subestimada. Ela rapidamente soltou-se do aperto do soldado, que se espantou com a agilidade da rainha. Antes que pudesse protestar, Odile usou do cotovelo para acertá-lo em cheio no nariz, desnorteando-o. A rainha chutou suas partes íntimas e puxou sua perna de apoio, usando dos golpes que aprendera com o marechal. O soldado veio ao chão, caindo de costas e perdendo o ar. Odile rapidamente tomou-lhe a espada na bainha e se afastou.
Ela viu quando Roto avançou em sua direção como se nada mais lhe importasse. Ela temeu, pois sabia que ele faria de tudo para levá-la de volta para Sohlon. Sem olhar para trás, Odile correu contra a maré, vendo a onda dos pedreiros partirem para cima dos soldados, protegendo as terras amadas.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...