Aquela porta no fim do templo lhes levou para o lado de fora em uma espécie de quintal imenso e cercado por grades. Nos fundos daquele grande quintal, um sobrado lhes abriu as portas. Estava abandonado, como o resto da cidade, mas parecia mais bem preservado e surpreendentemente mais quente.
Os sobreviventes ajudaram os feridos a chegar ali. Frey, ainda fraca e desacordada, foi colocada no sofá de uma sala logo à esquerda da porta de entrada. No hall, Düran tirou as roupas congeladas e Azura correu para os andares de cima, pronta caso encontrasse surpresas ruins com garras e dentes. Entretanto, achou o que procurava. Entrou em um dos quartos e tomou todos os cobertores que conseguiu. Jogou-os sobre o amigo antes que esse entrasse em estado de choque pela hipotermia. Düran agradeceu, estirado no chão de madeira como se aquele fosse o lugar mais confortável em que já se deitara.
Os seis restantes separaram-se pela casa e prometeram reunir-se na saleta quando encontrassem o que quer que lhes fosse útil. Urros de comemoração faziam um ou outro sorrir pelos cantos. Exaustos, encontraram-se na sala em que Frey descansava. Moldaram um pequeno círculo e ali jogaram o que lhes parecera útil. Aurèlia fez a limpa em todos os armários e jogou no centro da roda as roupas que aquela família deixara para trás. Parecia um pai, uma mãe e dois filhos adolescentes. Vocra era um ambiente quente, mas ainda assim esfriava vez ou outra. Se tomassem todas as roupas dos antigos moradores, conseguiriam aquecer-se no frio glacial do lado de fora. Ginevra encontrou remédios sofisticados que tratariam ainda melhor das feridas de todos, principalmente das de Frey. Imaginou que os moradores fossem no mínimo ricos. Azura e Alaric trouxeram algo que lhes fez os olhos brilharem - comida fresca. Salgados, pães, doces, até a carne estava boa. Isso os fez pensar que, o que quer que tenha acontecido com os vocranianos, foi uma despedida recente das terras. Rápida e recente. Não levaram nada. Enquanto devoravam um delicioso pão caseiro, Caiden e Kohan trouxeram as bebidas, sob as comemorações de todos. Foi como a noite começou.
- A gente podia jogar alguma coisa - Frey acordara depois de tanto tempo. Contanto que bebesse o gin, não sentiria nada. Logo tornaria a dormir, mas por estar tão bêbada e anestesiada. Não ousava olhar para a ferida suturada na perna e muito menos se mexer. Ainda tinha algumas horas antes de Ginevra voltar a tratar de sua coxa.
- Jogar? - Caiden riu.
- É. Eu não quero mais ficar sem fazer nada - a Kino cochichou. Seus olhos tornavam a pescar. Sua barriga cheia de trança de doce de leite lhe embalava lentamente em um sono confortável.
Os outros riram da bebedeira da Kino, felizes por ela estar melhor. Estavam ali há horas e sem noção de tempo, de dia e de noite. Não sabiam o quanto deviam esperar. Sentiam - ou fingiam - o cansaço um pouco mais. A casa era confortável, tudo o que precisavam. A lareira estava acesa. Se deram ao luxo de repousar e comer e beber após verem a morte de frente.
- Não quero ser estraga-prazeres - Caiden colocou uma garrafa de hidromel vazia sobre a mesa de centro ao seu lado -, mas quanto tempo vamos ficar aqui?
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...