85. Incerteza da Morte

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Mesmo antes de colocar os pés fora da redoma de Dante, a rainha percebeu que algo estava errado

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Mesmo antes de colocar os pés fora da redoma de Dante, a rainha percebeu que algo estava errado. Os ares não eram mais tão rígidos como blocos de gelo, mas pareciam mais úmidos do que secos ao penetrar seus pulmões. A neve já não mais caía, mas ainda assim sentia o frio perfurar sua pele desde a ponta de seus dedos. Cobriu Kaha com a manta quente que lhe pertencia e ignorou os chamados por seu nome, vindos de dentro da casa.

Seus passos determinados a levaram ao centro da Pedreira, o extenso pátio que era palco de todas as grandes mudanças pelas quais aquele povo passou. Odile apertou Kaha mais perto do peito e o pequeno nem ao menos resmungou, como se soubesse que assim seria quase um inconveniente naquele momento em que o colo de sua mãe exalava tanta tensão.

Quando Odile percebeu como aquele cenário se desdobrava, teve vontade de colocar a bile do estômago para fora.


Os mais fortes dos pedreiros moviam montanhas para segurar as barricadas que ameaçavam ceder às investidas do outro lado. A rainha sabia quem eram seus inimigos e sabia o que estavam fazendo ali.

Odile! Rainha Odile! - ouvia as vozes a chamando pelos cantos. Não carregavam mais a hostilidade de outrora. Pareciam agora, entretanto, suplicar por um norte. - O que fazemos?

Quem parou logo à sua frente foi um par de olhos claros que ela conhecia. Isaac estava pálido como a neve e a rainha apostaria que ele esteve chorando, o que era algo tão corriqueiro por todos os cantos durante aqueles tempos sombrios que nem ao menos perguntou o motivo. A hora não era favorável. Entretanto, Isaac ficou ali para ouvir as ordens, não sabendo o porquê de querer ouvi-las ou segui-las.

- Foi para isso que nos preparamos - a rainha murmurou.

- Não nos preparamos, Odile - Isaac vociferou.

- Estão todos armados - devolveu com a mesma intensidade.

- Com armas que não sabem usar.

- Vai ter que servir, Isaac - a rainha cresceu para cima dele. - Aquelas paredes vão cair e vão cair logo. E aqueles homens vão entrar e matar tudo que respire.

- Converse com eles, rainha - interpelou. - Você ainda manda naquelas cabeças.

- Se aqueles homens estivessem aqui para conversar, teriam no mínimo batido na porta - os pelos de seu braço se eriçaram ao ouvir a balbúrdia que desenrolava-se por toda a Pedreira e fora dela. Os urros dos soldados do rei eram algo que ela não conseguiria descrever, se a perguntassem. Era como se estivessem determinados a derramar sangue, animais sem coração e com apenas uma finalidade, presos por um cabresto. - Não vão me reconhecer antes de arrancarem minha cabeça fora. Não, eles não vão conversar. Vamos lutar, Isaac - os olhos do homem marejaram. Ela soube que algo o afligia além de tudo aquilo. Era demais para qualquer um e ela queria tanto quanto ele que aquilo acabasse logo. - Posso contar com você?

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