Capitulo 45

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Mais, uma vez andava
Mais, uma vez andava por aquele maldito corredor. As paredes, apenas coberta por tinta branca, apenas escondiam parte da dor de muitos que ali choravam pelos seus.

Não sinto nada. Não sinto um pingo de tristeza, apenas um vazio que não parece ter fim.

Ainda hoje não sabemos quem foi o filho da puta que atropelou a minha menina.

Duas semanas. Duas semanas ridiculamente dolorosas desde que ela foi atropelada e entrou em coma.

A minha vida parece ter acabado aqui. Já chorei o que tinha para chorar, apenas sinto um formigueiro constante a atacar o meu corpo e a dor a querer preencher-me.

Não durmo, mal como e apenas a unica coisa que me faz esquecer a dor é o álcool que encontro ao fundo da esquina num pub qualquer.

Estou desesperado porque tenho medo que ela nunca mais acorde. Tenho tantas saudades dela. Pergunto-me todos os dias, porque é que a deixei ir para aqui sozinho com o outro. A culpa foi minha, sei disso.

O pai da Ana e a Claudia vieram para Londres assim que souberam da noticia, comigo e com a minha familia. Estamos todos em choque com medo que aja qualquer complicação. Tenho medo de não poder voltar a olhar para aqueles olhos cor de avelã ou aqueles lábios a chamarem por mim. De ver o sorriso dela mostrando a sua genuidade.

O médico foi obrigado a induzir a coma a minha pequena.

Conseguimos aceder, pela policia, a um video de uma câmara de vigilância de um café qualquer. Vê-se o carro a passar a alta velocidade. A Ana a passar a passadeira, parecendo mal, e simplesmente o carro nem parece se ter desviado sequer um milímetro.

Ela é arrastada pela força do embate e o seu corpo encontra o chão depois de arrojado aproximadamente 13 metros.

Admito que aquilo deitou-me abaixo. Tratada como um boneco e a ser deixada no meio da rua sem sequer a ajudar, como se fosse um monte de merda que ali andasse.

A policia anda a investigar o caso que até marcou alguns minutos nas noticias. Só vai levar algum tempo até conseguirem descodificar a matricula e deus me segure ou eu nao parto a cara a quem fez isto à minha namorada!

Entro no quarto, e olho para ela. A sua cara está pálida e ostenta na mesma, uma máscara ligada a um ventilador para a ajudar a respirar. A sua cabeça está escondida por uma grande camada de gaze. Os seus braços têm hematomas e arranhões assim como na sua pequena face.

Oico um bip bip frequente e irritante ao mesmo tempo. Indica os seus sinais vitais que se mantêm firmes dia após dia sendo um bom sinal. Sento-me na cadeira ao lado da cama e pego na sua mão fria, entrelaçado-a com a minha quente.

Sei que ela me consegue ouvir, embora não possa mover um músculo. Está consciente mas o seu corpo está desligado. Pelo menos foi o que vi num artigo de uma revista qualquer na sala de espera aqui do Hospital.

Por favor bebé, acorda. Tenho saudades de sentir os teus lábios nos meus. De tentares parecer mais alta ficando na ponta dos teus pés para gozares comigo - Ri-me desfarçando a dor.

Pergunto me todos os dias porque é que não me ligaste. Ou sequer mandaste uma mensagem. Ou até a ideia estupida de terem ido enfiar-se numa discoteca. Eu sempre soube que ele gostava de ti, só não estava à espera que ele se aproveitasse e fizesse o que fez.

Parece-me ouvir a maquineta a apitar num passo mais acelarado mas, quando olho, o seu ritmo cardiaco está como estava à 5 minutos.

Eu perdoou-te. Sei que a culpa não foi tua. Sei perfeitamente o que o álcool faz. Tenho sentido isso todos os dias desde que estás aqui - Aperto a sua mão tocando nos seus dedos pequenos.

Only Angel |PTOnde histórias criam vida. Descubra agora