Capítulo 77

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Hoje iria para o dormitório. Queria descansar. Queria puder estar só. Não pensar muito. Ouvir uma playlist no spotify calma. Talvez ver um filme. Uma série quem sabe.

Algo que não me fizesse relembrar de algo. Algo.. que não me atormentasse. Por vezes estarmos sós não diz que somos introvertidos, ou até mesmo pessoas descompensadas. Cada um reage da sua maneira consigo mesmo. Costumava ler muito e ouvir música enquanto as horas passavam. Era algo de que eu gostava imenso de fazer. Algo que retia o meu eu interior de se despedaçar como naquela altura já era frequente de acontecer.

Fazia-me pensar na vida. De uma maneira simples e menos caótica. Libertava-me pelos meus pensamentos sem o medo deles me apoderarem. Encara os sentimentos e vivências da personagem como sendo eu. Pensava de como seria se me acontece-se as tragédias que lá habitavam. A reação que teria. O prazer ou a tragédia que habitaria se..

Não se ouvia barulho algum quando adentrei pelo edifício. Um corpo encontra-se sentado com a cabeça entre as mão, quando chego á porta do meu quarto. Parecia um tanto apreensivo. Como se tivesse medo de algo. Medo de algo possivelmente impossível. 

Antes que pudesse sequer encarar a fechadura e posicionar a chave sobre a mesma, a pessoa decidiu alevantar-se, encarando-me. 

Lástima. Infelicidade. Desgraça. São tudo objetivos que se adequam á presença deste ser que se encontra a mirar-me inequivocadamente.

XXX - Ana?

Se eu disse-se que estaria surpreendida, não haveria ninguém no mundo que pudesse contrariar essa ideia.

- Isaac? - Questiono um pouco abatida pela sua presença. 

Ainda não me esqueci.. Por muito que quisesse. Por vezes as pessoas que mais pensamos que seriam incapazes de nos abater ou desmesurar.. Isso é tudo irrelevante. As pessoas fazem o que querem da vida e, se as palavras te saem da boca é por vontade própria. 

Isaac - Podemos falar? - Olha penoso.

- Depende. Da última vez que falámos, acabámos a discutir... - Olho para as chaves que continuam penduradas na minha mão. 

Por favor Ana. Dizer não ás vezes é bom. Não deixes. Respeita-te. Ele não merece.

Isaac - Ana por favor, eu sinto a tua falta - Os seus olhos estão completamente marejados - Lembras-te quando nos conhecemos? Quando me conheceste? - O seu braço toca no meu.

- Não vejo o porquê de vires com essa conversa. Isaac é melhor...

Isaac - Tu acreditaste em mim. Tu ajudaste-me. Tu.. Tu sempre foste aquela pessoa que sempre esteve ali para mim. Mais do que os outros. Depois de cada quimio do meu pai, estavas lá sempre para me dizer que ia correr tudo bem. Foste tu que me fizeste acreditar que eu conseguia ultrapassar aquilo mesmo que não tivesse a melhor relação com o meu pai. Estiveste lá. Sempre. Por favor, só te peço. Ouve-me.

O som de soluços são captados por mim. O seu olhar rodeia-me completamente despedaçado.

Antes que alguém o veja neste estado, insiro a chave contra a fechadura abrindo a porta. Puxo o seu corpo para dentro do quarto fechando novamente a porta. Posso ser demasiado estúpida por o deixar falar, mas eu não gostava que me fizessem o mesmo embora no passado, o tenham feito mais de milhões de vezes.

Pior do que ver uma pessoa a chorar é passar ao lado e não dizer nada. Não perguntar. O não querer saber. O não se interessar na pessoa. Esta humanidade está toda perdida... Enfim...

Isaac - Tens que me compreender. Tu tens Ana. Eu não queria dizer nada daquilo mas disse. Eu quero.. - Diz estendendo o seu braço mas depressa me sento na minha cama tentando não olhar para a pessoa diante de mim.

Quero ser forte. Quero poder dizer que aquilo não me afetaria tanto como deveria. 

- Isaac nada do que tu possas dizer ou fazer, vai redimir o que tu um dia disseste.

Isaac - Eu sei mas eu quero ao menos dizer o que a tua ausência me fez, eu..

- Nada estaria assim se não tivesses vindo para cima de mim.. Como se eu já não estivesse suficientemente mal pelo episódio anterior - O seu corpo encolhe-se sentando-se ao meu lado, continuando a olhar-me com pesar.

Isaac - Eu tenho saudades tuas. Perdoa-me.

Eu queria. Mas é apenas uma vontade própria de mim. Nada diz em concreto. 

- Eu queria puder ter ouvido um "Vai ficar tudo bem" ou um "Eu estou aqui para ti independentemente de tudo" mas ao contrário disso, apenas desprezaste a situação e de como eu estava em relação a tudo e, por muito que queiras, não existe uma máquina do tempo para poderes voltar atrás e poderes remediar as coisas ou apagar certas sentenças.

Isaac - Eu sei mas.. Aquele dia para mim foi um dia catastrófico. E ver-te naqueles prantos. Cansada. Afligida. Stressada de mais. Piorou a situação.

- Nada disso retornará nada.. - Digo olhando para a janela focando-me no quão bonito o dia está.

Isaac - Por favor percebe, eu não te peço mais nada raios - Alevanta-se falando num tom mais preocupante.

- E voltamos á estaca zero - Digo aborrecida.

Isaac - O cancro voltou. O meu pai novamente está com cancro. E não existe nada que eu possa fazer.

- Isaac.. O quê?

Isaac - E eu não sabia o que fazer. O que dizer. Como falar que o cancro desta vez não o ia deixar como da primeira rodada. De como eu não quero que ele morra porque eu gosto demasiado dele para o deixar ir assim - Encosta-se á parede mirando o nada.

Os seus olhos não possuem mais nada a não ser a sua cor natural dos olhos sem vida, sem sentimento presente. Frios. Gelados. Como um ser que acabou por fragmentar o coração em mil cacos.

Devem ser irmãos só pode. Gémeos, aliás..


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Primeiro de tudo queria dizer que onde quer que estejas sempre irás estar no meu pensamento mesmo que as palavras que diga não sejam suficientemente fortes ou corajosas para explicitar o que eu sinto por ti.

Foste o anjo em pessoa do qual eu nunca tive a possibilidade de reter uma memória. Acredito que estarias orgulhosa da tua menina que deixaste ainda pequenina com tanto por viver.

TU tinhas muito para viver! O porquê de te teres ido embora eu não sei, mas o que eu sei e o que me paira na alma todos os santos dias é de que o meu amor por ti, em nenhum momento se irá apaziguar ou diminuir.

És especial. Sempre foste. Sempre serás. Apoia-me e olha por mim daí de cima como quando eu olho para o céu a pensar em como seria se estivesses aqui. Comigo. Com todos.

Eu amo-te pai. Onde quer que estejas. Feliz aniversário «3

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Espero que tenham gostado. Peço desculpa se não foi o que pensaram mas tentei dar o melhor, próximo capitulo é continuação.

Sejam felizes.

«««All The Love»»»

Only Angel |PTOnde histórias criam vida. Descubra agora