Capítulo 64

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O álcool percorre por fim nas minhas veias. O meu corpo impaciente ansia por mais um copo de whisky e penso que vá acabar com o stock não tarda muito. Não me importo. Apenas quero voltar a sentir a euforia que há anos não sentia.

O toque ardente que sentia, quando a bebida escorregava pela minha garganta de nada se comparava á dor que me preenchia. Pouco a pouco a mesma ia se dissipando. Mas ela estava lá..

Ela continuava lá.. Como iria sempre estar...

Apenas estava adormecida..

Era tudo um torpedo de emoções, do tipo quando estamos numa montanha russa e sentimos felicidade e no final, quando descemos até lá ao fundo, a ansiedade percorre todo o nosso corpo. Nós queremos sair, mas não há escapatória possível.

O que estou a sentir é semelhante a isso. A dor que me está a consumir, lentamente me vai afogando em algo que eu pensei não voltar a sentir..

Não com ela... Porra..

XXX - Hey toma calma garoto, tudo irá passar e voltar ao normal - O bartender começava então o seu discurso que pouco me confortava. Ou até mesmo nada..

- Encha o copo, até ao topo...

XXX - Não acho que seja boa ideia. Vai para casa é me- 

- Apenas encha o copo, eu pago, tenho dinheiro suficiente.. - Os nervos começam a subir á flor da pele. Estou demasiado quente..

XXX - Sabes que o álcool não resolve nada? Apenas adormece essa dor que tens ai por algum tempo, mas ela não foge rapaz. Ela continua ai - Fingo que as suas palavras me aquecem o coração, olhando para ele desconsolado.

- É mesmo por isso que estou aqui. Ao menos por algumas horas não penso tanto em como a vida é fudida, por isso, encha a merda do copo..

Mais uma vez inclino os lábios sobre o copo. O toque frio do conteúdo mais uma vez desce e todo o meu ser grita. Não pela bebida, a mesma já parece água de tanto que já bebi, mas sim pela dor que tenta permanecer. 

Como se fossem pequenas facas a espetarem contra a sua pele. Parecia que ao mesmo tempo que elas cravavam em si mesmo, fincavam de uma maneira tão profunda que o abatia profundamente.

E ele não gostava disso. Odiava. Condenava á morte quem o fizera ficar assim. Mas ela..

Ela era diferente..

Era confuso. Não sabia se algum dia era capaz de perdoar a sua pequena quanto mais voltar ao mesmo. Como estavam.

Juntos..Unidos num só..

Percebeu que a sua vida num overall era literalmente pior que um monte de merda espalhado no chão a apodrecer.. Aquela menina a quem o mesmo tinha dado praticamente tudo de si bem como o seu coração, unindo a ele a metade que lhe faltava, tinha acabado de estilhaçar o mesmo. Completamente..

E o mais genuíno deste passado tenebroso que o mesmo tinha passado ridiculamente mal, já tinha partido o que nele ainda estava intacto. Apesar da infância turbulada, era um menino confiante de si mesmo e que infelizmente teve que crescer rápido para arcar com o papel de homem na família. Para a proteger...

Proteger. Uma palavra com apenas 8 letras, mas com um significado tão profundo. Assemelha-se a querer tomar conta de algo com todas as suas forças. A derrubar todos aqueles que tentassem ditar o contrário.E ele sabia que independentemente de todos os seus erros cometidos, ele tentou participar arduamente na segurança da sua família. E especialmente com a dela.

Aquela rapariga que desde o começo em que lhe pôs os olhos em cima, afugentou todas as suas conspirações em relação á vida como igualmente á felicidade, que voltou a encontrar como quando da primeira vez agarrou na sua mão e fez dela sua. Sua eterna. Perante todos. Erguendo das cinzas um novo Harry. Um Harry crente, na possibilidade de afugentar os demónios da sua cabeça e ainda assim voltar a ser feliz, sem pontos ou exclamações. Voltar a acreditar nele próprio e na possibilidade de converter as odd's contra tudo e todos..

O seu sorriso era genuíno. O seu olhar, autêntico. A maneira com a qual ela se ria era legitimo. Como quando ela se envergonhava por coisas mínimas... As palavras que da sua boca saiam e, a forma como pensava e agia, era inteiramente pura.

Dai o mesmo se questionou. 

Como é que a menina que antes lhe tinha tomado o coração e feito dele tripas coração, era capaz de ter feito algo tão impuro? Algo fora do contexto que a mesma profanava? Algo que ela costurava afincadamente, cuja ação era incapaz de executar?

Odiava o poder que as perguntas tinham nele, pelo simples motivo que muitas dela não teriam resposta possível. Se nem ele saberia responder a algo que o mesmo presenciava em si ou faria e estivesse arrependido, iria fazer perguntas sobre os pensamentos e atos de outras pessoas?

O bartender afligiu mais uma vez ao seu pedido, pousando depois a garrafa perto dele. Aquele pobre senhor nem fazia a ideia dos problemas, confusões e conflitos que afligiam aquela pobre alma que descansava a cabeça em cima da mão. 

O problema é que sabia precisamente o que se passara, pois antes, na flor da adolescência também tinha passado pelo mesmo. A histeria em querer se afogar em algo que tomasse conta da sua mente, nem que fosse por alguns pares de horas.. Sem puder, assim, pensar no assunto que o tanto atormentava... 

O bar permanecia calmo. Harry era o único sentado naqueles bancos altos, colados ao balcão. Uma música de rock meio lenta adequava-se perfeitamente ao ambiente  que o mesmo sustentava. Algumas pessoas estavam acomodadas naqueles sofás, encostados á parede, animados na conversa de quem ditava as palavras alegremente. Outras estavam agarradas ao copo contemplando o mesmo, tal e qual como Harry, a pensar na vida. Perdidos e abandonados na imensidão das mesas que tomavam do lugar cómodo e ao mesmo tempo meio melancólico.

Talvez esse fora o seu propósito. Sempre ouviu dizer pelas palavras da sua mãe, que nada viria sem esforço algum. Era necessário trabalhar arduamente para se ser alguém, para se ter algo, ou até mesmo, para esquecer alguém que na sua vida passada afligira à sua vida com um outro tipo de dor.

Era inimaginável. Desde pequeno que sempre foi ensinado a não fazer isto ou aquilo. A seguir regras. A não maltratar as pessoas e a ser educado. E inconfundivelmente a vida lhe mostrou que nem tudo é um conto de fadas como demonstraram muitos.

Não queiram crescer quando forem pequenos. Atingir a maioridade para ter liberdade, ter e fazer o que quisermos. Nada é simples e no entanto não é bem assim como asseguram.

 A partir do momento em que fazes 18 anos deixas de ser considerado a criança que eras, como quando a tua mãe te acariciava a cabeça beijando a tua testa e te dizia "Vai tudo ficar bem" quando tinhas um pesadelo e mal dormias. Na na...

Aí, nesse momento, vais perceber que estás numa selva onde quem manda é o Rei Leão e outros tantos, que, não só por serem maiores que tu, têm mais experiência... tanto de vida, como de  aceitar as coisas tal e qual como elas são, de arcar com as consequências caso façam algo errado... e dai a nossa mãe já nada pode fazer, pois já és adulto e a pessoa a quem tens que dar satisfações não é a ela mas sim á força superior...

Agora, já praticamente um homem feito, gostava de poder voltar atrás.

Onde uma ferida no joelho não era tão profunda e ao mesmo tempo dorida, como um coração partido.

Feito pela rapariga que pensara ser o seu tudo. A única que realmente valia a pena.

E agora, sentado num banco de um bar qualquer no canto da esquina, pensara em como era miserável.

Por não conseguir compreender a finalidade ou a intenção de viver. E, em vez de superar e se erguer, cair novamente. Num buraco tão fundo que nem ele pensava conseguir subir á superfície de novo.

Pois nestes segundos, se sentiu algo inútil. Como quando é chutada uma lata amachucada e ela cai para dentro da valeta. Juntando-se assim, aos restos de lixo que por lá existiam, que outrora, numa outra vida, tinham passados momentos indescritíveis mesmo que por meros tempos.

Assim como Harry...

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Hello Angelsss

Sem palavras, talvez dos capítulos mais profundos que tenha escrito. Para vocês pode não ser lá grande coisa, mas realmente também eu pensei muito na vida ao escrever cada palavra.

Comentem e votemmmmm

Kisssssssssseeeeeeeeeeessssssssss

«««All The Love»»»

Only Angel |PTOnde histórias criam vida. Descubra agora