Como é que algo tão impuro, tão imundo foi capaz de ser feito?
Era a pergunta que vagueava pela cabeça de Michael ao se deitar todas as noites. Era algo que o assombrava durante o dia e, que o aterrorizava todas as noites. Era sequer capaz de pensar em como ela estaria neste mundo.
4 meses se passaram desde o sucedido. Dolorosos. Impassíveis. HMP Wandsworth era uma imponente instituição Vitoriana com uma fachada austera, semelhante a uma fortaleza. Quando atravessou os portões, Michael fora prontamente introduzido no sistema prisional britânico para onde fora transferido de Portugal, em Lisboa onde estava preso durante um curto espaço de tempo té que tivesse sinal de luz para se mover para o seu país de origem. Despiu as roupas um pouco trespassadas no tempo que lhe tinham sido dadas, com que se e recebeu umas calças de treino cinzentas ásperas, uma T-shirt azul largueirona e um "kit de boas-vindas", composto por algumas saquetas de Nescafé e meia dúzia de bolachas. O guarda prisional que supervisionou a sua admissão avisou-o, sem rodeios, de que a maioria dos cerca de 1.500 presos de Wandsworth eram "vermes". Agressivos. Pessoas que tinham cometido crimes á sociedade sem qualquer pensamento vivido e puro na vida. Enquanto era conduzido ao longo do corredor despido até à sua cela, o som mutilante de dezenas de presos gritavam, rosnavam e batiam nas portas como leões enraivecidos e moídos pela moléstia e pela raiva. Geraram uma sobrecarga sensorial aterrorizadora a Michael. Um rapaz de 21 anos. Aparentemente um adolescente na flor da sua idade com um futuro vivido e maravilhoso pela frente. Um jogador promissor pensava. Tinha o sonho de chegar a ser alguém a mais na vida e, adquirir a titularidade na equipa principal da seleção inglesa, ou, por outro lado, alguém com um futuro promissor pelos cantos da cozinha. Onde almejava as facas com perícia e encantava quem quer que o fosse visitar á sua aventura gastronómica. Pensou ele. Pensou bem até ter acontecido aquele erro. Aquela desgraça que lhe arruinou a vida, pensou.
Chegou à cela minúscula com o coração aos saltos. Depois a porta fechou-se, com força, atrás dele. Sentia-se como algo indefeso. Os seus olhos descreviam a pura adrenalina, mas apenas num mau sentido. Á sua frente, no canto da sua cela, uma sanita minúscula envolvia o espaço. Suja. Empodrecida. Era assim que ele se sentia.
Ao seu lado, um beliche evidenciava-se. Enquanto olhava o que seria o sitio onde iria ou tentar pelo menos conseguir "viver", um ser com uma voz que aparentava ser velha surgiu das imundezas daquele sitio.
XXX - Bem vindo novato.
Michael a medos, olhou para o colchão na parte superior do beliche. Um homem pelos seus quarenta anos, completamente tatuado e careca, com um ar aterrador e assustador, mirava-o com luxúria. Como se fosse o único pedaço de carne á face da terra. Imediatamente o ar fugira dos seus pulmões e o suor era acrescentado ás suas mãos. Sinal de nervosismo. Medo.
XXX - Oh. A donzela está assustada. Sempre chegam assim e no final mostram-se.
O individuo até então desconhecido, saltara do beliche para baixo, assentando com força no chão. Era bem mais alto que Michael, pensara.
Ao fim de algum tempo, o homem virara-se andando a uma pequena mesa que lá havia. Papeis mesclados estavam dispersos pelo chão assim como alguns lixos. Seringas. Panos. Talvez até mesmo droga. Ainda de costas para o rapaz a tremer, questionara.
XXX - Chamo-me John, e tu és?
Michael - Eu cha-chamo-me Michael, senhor - Dissera a medo. Tudo era possível.
Ali na prisão era o tudo ou nada. O medo apenas era consequente. Num segundo estávamos a passear pelas alas da prisão ou do recreio, lá fora, e, no outro, estávamos a ser puxados para algum beco isolado de guardas ou camaras ou até mesmo alguma cela, e espetavam uma faca nas costas. Alguns eram desventrados. Outros violados pelas impureza que outrora tinham feito consoante os seus delitos. Era o tudo ou nada pensara novamente. Talvez não saia dali vivo. Talvez não possa poder explicar a verdade a Ana, um dia.
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Only Angel |PT
Romance"A realidade é que não te amo com os meus olhos que descobrem em ti mil falhas, mas sim com o meu coração, que ama o que eles desprezam e apesar do que vê, adora apaixonar-se" Inicio(17-04-2020) Fim (11-09-2021) #229 EM STYLES - 26 de Abril 2020 #2...