Capítulo 34

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Sabem aquele sentimento de que algo vos anda a escapar? De quando se sentem ameaçadas por algo invisível, mas que vos corroí todo o vosso ser? 

Pois. Eu sinto isso constantemente. Como agora, neste preciso momento. 

A cantina da escola estava cheia e neste momento estava a devorar a bifana que estava diante de mim. Estava sozinha pois a Constância estava agora numa consulta de rotina, e o Harry.. Bem esse nem se vê. A verdade é que depois da nossa pequena zanga de há um mês atrás, estávamos finalmente bem. Quer dizer, eu acho que sim. Tudo corria sobre rodas.

A nossa relação era a mesma. Iamos juntos para a escola mas o seu lugar continuava a ser o mesmo, ou seja, ao lado da bezerra da minha cara prima. Continuavam os sorrisos, os olhares discretos, e não existia um único olhar na minha direcção. Sentir ciúmes era dizer pouco em relação ao sentimento que ia crescendo todos os dias dentro de mim. E isso irritava-me profundamente. 

Mas sinceramente algo me moía a cabeça para além disso. Todos os almoços ou até mesmo depois das aulas, o mesmo deixava de me responder ás mensagens ou então desaparecia do meu radar sem eu dar conta quando dava o toque para sair. Depois de ter uma conversa com a minha melhor amiga, sentia algo esquisito, como se algo estivesse a fugir do controle. 

Em casa andava tudo na mesma. O meu pai tentava sempre agradar a Caroline com o seu sotaque mesquinho e cabelo oxigenado e mal ligava ás filhas. Essa de cada vez que abria a boca só me apetecia era raptá-la e atirá-la de uma ponte abaixo. E a minha irmã bem faria o mesmo que eu.

Agora, tentava por o meu tabuleiro onde se põem os mesmos e depressa segui em direcção á sala de estudantes para ir para um computador passar o tempo visto que ninguém me ligava. Foi quando passei a porta da cantina para fora para entrar no corredor, que vi de relance uns caracóis familiares. E então para tirar as minhas dúvidas, por que sim, há inúmeros rapazes com as mesmas semelhanças nesta escola, decidi seguir a tal pessoa, porque mesmo que existissem tantos rapazes com essa semelhança poderia finalmente encontrar o Harry e, finalmente, acabar com a solidão que aos poucos ia tomando conta de mim.

Dirigi-me até ao final do corredor passando a porta para o pátio da escola, rumo á parte de trás do ginásio. Bom sitio aliás. Realmente quando queres ir fazer alguma coisa privada ou até mesmo que não queiras atenções, este local é muito bom porque não vem aqui quase ninguém. 

Vejo que o tal sujeito vai mesmo para lá e decido continuar a segui-lo ficando mesmo ao virar da esquina escondida para não me verem. E é quando oiço ao longe, vozes. Consigo perceber que é uma rapariga e um rapaz mas continuo ás aranhas para perceber quem sejam os tais indivíduos que agora me despertaram a atenção.

XXX- Até quando vais fingir?

XXX2- Desculpa? 

XXX- Estou farta. Desde andar escondida até ficar a fingir coisas que não são verdade!

XXX2- Eu apenas não sei o que fazer. É tudo tão confuso. Duas pessoas tão diferentes por quem sinto o mesmo! - uau nota-se bem que estão a discutir mesmo estando aos cochichos. Adoro novelas mexicanas!

XXX- Ou sou eu ou ela, escolhe!

XXX2- Eu preciso de tempo. Para pensar em nós...

XXX- Eu não quero saber! E aliás, não podes esquecer o que se passou entre nós! Nós temos um passado que, quer queiras ou não, vai sempre fazer parte de ti como de mim!

XXX2- Eu sei. Mas eu...

XXX- Já disse o que tinha a dizer, agora faz o que quiseres ou apenas querias a atenção que a outra não te dá?!

XXX2- Não te atrevas a tocar nela! Se algo lhe acontece...

XXX- Se não o quê?! Vais me deixar como antes? 

XXX2- Acredita que quando ela souber, não sou eu, mas é ela que vai acabar contigo..

XXX- Por favor. Só te peço mais algum tempo. Até lá eu quero continuar a ver-te. Embora o que outrora nos aconteceu, nunca te esqueci e quando te vi novamente naquele dia é como se algo acende-se e eu sei que ainda sinto algo por ti...

XXX2- Promete que vais acabar com isto rápido...

XXX- Eu prometo, e agora posso....

Há maldita vespa!

E era quando estava a chegar a parte mais emocionante da conversa que vem uma vespa a passar diante dos meus olhos e eu sem querer assusto e mando um berro!

HAAAAA!!

E não é que aquela cabra me picou?! 

Enquanto a dor me assombrava fiquei preocupada pela possibilidade de eles me terem ouvido e quando olhei de soslaio pela esquina consegui perceber que eles ainda continuavam ali, mas desta vez agarrados um ao outro...

ESPERA AI! 

Fico chocada. É como se o meu mundo parasse naquele instante. Mais uma vez a vida prega mais uma rasteira. Sinto o meu mundo a cair lentamente como se quase ficasse sem oxigénio. Tudo o que eu não queria que acontecesse está a presenciar-se neste instante e tudo o que eu queria era nunca ter acreditado nas palavras das pessoas que mais me ajudaram, ou pelo menos tentaram. É inevitável. 

Caroline Flack. Harry Styles. A beijarem-se!?

Encosto-me á parede e deixo-me cair enquanto as lágrimas caiem uma por uma lentamente. Sinto que de cada vez que tento, nem que seja por uma vez, ser feliz e deixar o passado para trás, vem algo e estraga tudo. Como uma colisão de um carro. Onde não sabemos se sobrevivemos ou, se por um milagre, conseguimos erguer as nossas forças e erguermo-nos.

Apenas me pergunto porquê. 

Será que não sou o suficiente?! Porque é que continuam a fazer sempre o mesmo? A magoarem-me como se eu não fosse nada que vale-se a pena?

Saio a correr e vou em direcção á casa de banho que fica no interior da escola. Depressa entro nela e tranco-me numa cabine, deixando-me escorrer até entrar em contacto com o mosaico que só por acaso estava gelado. 

Apenas deixo a solidão e a tristeza tomar conta de mim e deito tudo cá para fora. Enquanto aqueles merdas supostamente ainda se devem estar a comer.

UHHH! Porque é que eu sou tão burra em acreditar nas pessoas, porquê??

Sempre achei que depois da tormenta vem a calmaria, mas isso é tudo treta atrás de treta. Não sei quem escreveu isso, mas a sua vida devia ser um mar de rosas para ser tão poético, e neste momento era capaz de lhe bater para deixar sair a minha fúria!

Tentei a todo o custo deixar a mágoa e a melancolia debaixo do colchão enquanto tentava dormir, em busca de respostas ás minhas perguntas para assim, puder preencher os vazios que existiam tanto na minha mente como no coração. Acreditar que tudo vá melhorar apenas é uma expressão enganosa, que é uma plena mentira. Se as pessoas te amam não deves mudar por isso. Se gostam de ti gostam igualmente dos teus defeitos e dizem que sempre irão estar aqui para ti, independentemente das tuas loucuras ou hipocrisias. CHEGA!

Chega de ser aquela menina indefesa que deixa levar a melhor de todos! Chega de ser aquela que se importa com aqueles que menos valem a pena, pois esses? Esses acabam por ser os piores. Chega de ser o saco de boxe! 

APENAS CHEGA!ESTOU FARTA!

As lágrimas já tinham secado e quase não havia vestígios delas, já tinha saído tudo e apenas me sentia melancólica. Acabei por tomar a iniciativa de ligar á Constância. Apenas ela me poderia indicar o que fazer visto que eu própria não estava em condições para o fazer.

Já estava a acabar a aula em que supostamente eu deveria estar, mas neste momento nada me interessava. Decidi ir mais cedo para casa e depressa fui andado para a saída do recinto escolar enquanto pegava no telemóvel para ligar para a minha melhor amiga.

Apenas ela era das únicas pessoas em quem poderia confiar neste momento... Infelizmente....



Only Angel |PTOnde histórias criam vida. Descubra agora