Capítulo 1

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Às vezes sinto me perdida. Na maioria do tempo parece que o passado me suga e mais uma vez  me volta a perseguir . Eu sou a Ana e tenho 19 anos. Vivo em Lisboa apenas com meu pai e a minha irmã mais velha, a Cláudia que neste momento tem 22 anos.

A minha mãe faleceu com leucemia quando eu tinha apenas 1 ano. 

Nunca tive que me preocupar com nada na minha infância, pelo menos sempre tive acesso ao que demais precisava para o meu dia a dia, mas sendo sincera, a minha vida nem sempre foi um mar de rosas. O meu pai diz que depois de a minha mãe ter a Cláudia, ela mesma afirmou não querer ter mais nenhum filho, e agora a parte estranha vem asseguir, e vocês perguntam-se porquê? Segundo o meu pai, a minha mãe não queria ter mais nenhum filho pois a mesma tinha medo de não estar aqui para acompanhar o seu rebento. Tinha medo de não estar presente para ver os seus primeiros passos, ou até mesmo para ver o mesmo a fazer a sua vida como um adulto.  Quem ouvisse tal declaração acharia certamente absurdo o que a minha mãe tinha dito mas, agora olhando tudo o que aconteceu naquele tempo, a mesma tinha um pressentimento que iria tornar-se numa realidade dolorosa. Eu apenas tinha 7 meses quando num dia ensolarado a minha mãe sentiu umas dores ridiculamente fortes na coluna. O meu pai depressa a levou para o hospital e dali a mesma não saiu durante um longo período. Eu não quero nem pensar no sentimento que se apodera de nós quando nos dizem que temos cancro e que temos apenas meses de vida. Foram 7 meses de sofrimento, sete meses em que a minha mãe apenas falava connosco por telefone. Eu nem quero imaginar como foi quando ela teve a oportunidade de vir a casa apenas por um dia. Segundo o médico, seria para poder matar as saudades da família, e mal saberíamos nós que aquele dia seria a despedida. Não quero imaginar o que é pensar que num dia estamos bem e no outro dam-nos a noticia que temos uma espécie de prazo de validade e que quando ele acaba, a única coisa que nos aparece na mente é um caixão no meio de um cemitério onde está uma multidão de gente para poder dar o último adeus.

Em apenas um momento o meu pai viu a sua vida a virar-se ao contrário, e o pior de tudo é que não poderíamos fazer nada para melhorar alguma coisa. A minha mãe faleceu a 11 de Junho de 2002 e a partir daí passámos por momentos difíceis. Os meus avós dizem que o meu pai passava a vida no seu escritório a trabalhar arduamente, possivelmente para de certa maneira poder deixar de pensar em como a sua vida deu uma volta de 360º graus e em como não poderá estar mais com a sua mulher. Dizem que a minha mãe era mulher com um grande espírito, diziam que a mesma era muito respeitada não só pela simpatia e empatia que a mesma partilhava com todos mas também pelo seu lado doce e amável. Muito dizem que eu partilho esse seu lado e que sou deveras parecida com ela, e automaticamente é como se o sorriso que antes pairava na minha cara se desvanecesse a pouco e pouco pois nem da sua cara me lembro. 

Eu e a minha irmã não tivemos aquela infância típica de onde os pais mimavam os seus filhos e etc. Não estou a dizer mal do meu pai, até porque o mesmo sempre lutou para pelo menos me dar a mim e à minha irmã uma vida decente e, acima de tudo, admiro a pessoa que ele é e o quão forte ele foi por conseguir passar por todos aqueles obstáculos que lhe foram postos á  frente. O meu pai é a pessoa mais humilde que eu conheço, e não o digo de boca cheia, digo o porque nunca vi uma pessoa a ajudar tanto outras pessoas. Ele é simpático e carinhoso, mas por vezes pode ser teimoso e bastante persuasivo mas eu gosto dele incluindo os seus defeitos. Mas para se ter uma coisa não se pode ter outra e, há muitas lembranças de quando era pequena que ainda hoje não me saem da cabeça e que voltam a me atormentar o juizo de vem em quando.



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Olá espero que tenham gostado. Se pudessem votar e comentar agradecia, gostava muito de saber as vossas opiniões. A foto da Ana está na galeria.


All the Love «3

Only Angel |PTOnde histórias criam vida. Descubra agora