Destinos improváveis

Futuro - Planos

Severo passou o dedo anelar sobre a pedra negra encravada naquele anel de família, ele já nem sabia ao certo quantas vezes ele havia feito isso durante toda aquela madrugada longa e interminável, ela também não estava dormindo, embora estivesse em seu dormitório conforme ordenado e ela estava triste, ele precisou de muito auto controle para não ir checa-la pessoalmente, cogitando algumas desculpas que pudessem ser aceitáveis para aquele comportamento importuno, mas o fato é que simplesmente não era adequado, um professor não deveria circular pelo quarto dos alunos a noite, principalmente das garotas, ele fechou os olhos como se aquilo pudesse ajudar a dissipar sua preocupação, sim agora ele andava preocupado... aquela criança havia mudado sua vida, suas crenças e também suas prioridades.

A grande verdade é que por mais que ele tentasse se desligar, ele não conseguia deixar de revisitar em sua memória o momento exato em que ela havia se jogado em seus braços daquela maneira, não era lógico e nem racional, e ele definitivamente não estava esperando por aquilo, ele estava bravo, muito bravo, ela não deveria estar ali, aquele era um treino de quadribol da Grifinória, a casa rival e aquilo era com o maldito garoto Potter outra vez, ela tinha tantas outras tarefas em atraso para finalizar, já que ele havia conseguido mais prazo para ela, e isso sem levar em conta o principal... estar lá fora era demasiadamente perigoso para ela, ela havia prometido e então ela havia mentido, haviam tantos motivos, e isso o incomodou de maneira profunda, ele estava prestes a lhe ensinar uma lição, algo humilhante o suficiente para que ela o detestasse pelo resto da sua vida, e de preferência na frente de todos aqueles cabeças ocas, com os quais ela havia feito amizade, para que todos entendessem de uma única vez que haveriam consequências e que elas poderiam ser desastrosas, mas então ela o abraçou, e ela estava tremendo, e em pânico, alguém a havia deixado naquele estado e aquilo mudou tudo, a criança em seus braços havia se tornado aquilo que ele mais temia, agora ela era a sua maior fraqueza, e então ela chorou e aquele era um choro de medo mas principalmente de alivio, e isso fez com que ele sentisse raiva outra vez, mas não dela, ele poderia matar, matar quem quer que fosse o responsável por aquilo, ele havia feito uma promessa e ninguém iria machuca-la outra vez... diferente dela, ele cumpria suas promessas...

E assim que Shara foi levada para o castelo, Severo se embrenhou floresta a dentro, ele não tinha medo e ele estava disposto a matar seja lá o que fosse aquela criatura, ele já havia matado tantas outras vezes no passado, por muito menos, Alvo sabia disso e eles tiveram uma breve e intensa troca de olhares antes dele partir junto com alguns dos aurores que haviam sido convocados, obviamente que Alvo não concordava com a ideia de vê-lo saindo a campo daquela forma, mas ele não poderia simplesmente ficar ali e esperar, não depois de ter visto a criança, a sua criança naquele estado, seu sangue fervia, desejoso por vingança, de preferência com as próprias mãos e ele chegou tão perto, ele a viu... mas ela estava fugindo agora, acuada... sim a ave tinha razão sobre isso, em algum momento algo ali a assustou, e então ela entrou no lago e submergiu antes que ele pudesse alcança-la, ele chegou a entrar parcialmente na água, talvez ele não devesse ter ido tão longe, na água ele não teria nenhuma chance contra ela caso ela desejasse atacar, agora ele sabia, mas ele não estava medindo esforços ali, e tão pouco sabia dos aurores que haviam sido mortos momentos antes, e então ele voltou, completamente frustrado, Alvo levantou a voz para ele, ao ver o seu estado deplorável e depois de tantos anos, eles discutiram calorosamente, Severo não se importava... não mais, ele bufou irritado, sim ele estava fazendo de novo, repassando os acontecimentos pela milésima vez desde que haviam de fato acontecido...

Era desgastante até, principalmente quando se estava lutando contra tanto, lutando contra sentimentos dúbios, algo havia mudado... haviam evidências, e ele buscava entender... especialmente o por que se sentia tão frustrado com tudo aquilo? e não era apenas sobre a criatura que ele não havia conseguido atingir ou matar naquela noite, era sobre a criança também, ela era desafiadora em um grau e ele era completamente inapto a paciência como havia se provado, bem como aos cuidados esperados em uma mentoria, e o fato de encontrar Antony era o escape que ele estava buscando para vomitar todas aquelas inúmeras frustrações e os seus incontáveis argumentos de o por que ele não poderia prosseguir com aquilo, mas então mais uma vez as coisas pareciam fugir do seu controle e agora ele se encontrava completamente envolvido com a quebra de uma maldição, uma maldição milenar repleta de magia antiga, entrelaçada a uma lenda duvidosa, Severo estava se perguntando, se toda aquela trama não era mesmo algo premeditado... Por Merlin, ele estava soando tão caótico como a própria clarividência, talvez ele devesse trocar de cadeira com a professora Trelawney.... mas acontece que ele não acreditava nisso, ele não acreditava em lendas, ele não acreditava no destino... Ave maldita, história estúpida, haviam tantas particularidades, mas ainda assim era demasiadamente parecida com a sua própria história, com o seu passado... não havia como aquilo ser ao mero acaso, até mesmo alguém como ele podia ver aquilo... não... a vida estava pregando peças e agora ele, Severo Snape havia se tornado um alvo fácil, sendo ridicularizado e exposto por suas antigas crenças, sem ou quase sem nenhuma sustentação... não por menos ele se sentisse tão confuso e perdido, talvez até mais do que ela, mais do que Shara estava... depois de tudo que havia acontecido estando com tão pouca informação.