Futuro - Duas portas

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Severo gostava de fermentar, não à toa se tornará o melhor e mais experiente mestre de poções de toda a Europa em tão curto espaço de tempo, fermentar era para ele talvez como a música podia ser para Shara um reduto, enquanto fermentava ele se sentia verdadeiramente realizado, era ali o lugar onde ele ia quando queria se esconder, era com aquilo que ele gastava seu tempo e era ali também onde ele conseguia de fato relaxar e aquele pequeno laboratório em seus aposentos privativos já havia sido muito melhor aproveitado em seu passado, mas com toda a loucura e euforia que havia se transformado a sua vida pessoal naqueles últimos meses ele o tinha ocupado muito menos do que de fato gostaria, não à toa... e a razão dessa mudança tão drástica em sua vida acabava de cruzar a porta e se sentar, apoiando os braços sobre a bancada demonstrando tédio.

_Deveria estar se preparando para dormir - ele disse sem tirar os olhos do caldeirão.

_Ainda não estou com sono - ela disse - se importa se eu ficar um pouco aqui - ela pediu.

_A arte do preparo de poções exige concentração e ter uma garotinha estúpida tagarelando no meu ouvido, enquanto fermento, certamente não será muito promissor - ele informou, e aquilo não era uma mentira.

_Eu posso ficar quieta, você sabe – ela tentou - ou melhor me deixe ajudar... esse negócio de mentoria, finja que é uma daquelas sessões que devemos fazer - ela ofereceu - eu posso buscar os ingredientes, os cortar ou algo do tipo.

_Esta tarde - ele enfatizou – me diga, por que quer tanto ajudar? - ele arqueou a sobrancelha, a ouvindo bufar.

_Está sempre desconfiando das pessoas - ela o acusou, cruzando os braços, era uma cena engraçada, ela costumava agir assim quando algo a incomodava.

_As pessoas não são dignas de confiança - ele sorriu com ironia, sim... era exatamente assim que ele pensava - e você Srta. já provou não uma, mas algumas vezes... não merecer confiança alguma - ele a encarou a fazendo se lembrar das poções de sono sem sonho que ela havia decidido não tomar, desobedecendo assim suas recomendações sobre aquilo e de como ela estava planejando sair da escola e ir até o lugar informado no endereço sem certamente o comunicar, agindo mais uma vez por conta própria coisa que ela sabia... ele repudiava - diga por que veio - ele foi incisivo.

_Quero companhia apenas - ela respondeu – estou entediada, ou será que além de me trancar aqui, vai me forçar a ficar totalmente isolada e me obrigar a não dizer mais nenhuma palavra? - ela era boa em dramatizar – e o que poderia acontecer de errado em me deixar ajudá-lo? sendo que estou exatamente aqui, bem embaixo do seu nariz, onde pode me observar o tempo todo – ela devolveu, dando de ombros.

_Modos – ele a repreendeu, agora de fato a observando, mas se dando por vencido - não sou uma boa companhia, e falar enquanto fermento me deixa mais mal humorado do que de costume, então você irá trabalhar... de boca fechada – ele disse sério, ela assentiu - agora vá até minha dispensa e traga alguns sapos, estou precisando para os estoques da escola, vai dissecá-los, se é que quer tanto fazer algo que a tire desse tédio - ele a encarou a provocando, mas ela se levantou não vendo problema nenhum naquela tarefa, normalmente não era essa o tipo de atividade que os alunos gostariam de receber... – na última prateleira Shara – ele disse, já que ela estava levando tempo demais para encontrar aquilo e então ela voltou com dois potes de sapos, boiando naquele líquido pegajoso e os depositando sobre a bancada, ele não esperava que ela fizesse tudo aquilo nessa noite, mas resolveu não opinar sobre o exagero, não ainda – comece removendo as pernas e as separe em um recipiente de vidro específico, use luvas – ela começou a trabalhar, fazendo aquilo que ele havia pedido.

_A quanto tempo esses sapos estão conservados? – ela perguntou depois de um certo tempo.

_Algumas semanas – ele respondeu vagamente, notando que ela havia acabado o primeiro vidro – antes que comece o vidro seguinte, sugiro finalizar o que temos... ainda tem bastante trabalho a fazer, com esses daí – ele disse notando que ela estava prestes a abrir o segundo recipiente, mas obedeceu esperando uma nova recomendação – agora irá remover a cabeça, o corte deve ser quase cirúrgico, vamos reutilizar as vísceras – ela assentiu, manipulando o primeiro sapo, ou aquilo que havia restado dele ali.

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