Futuro - Ameaças

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Assim que a porta da sala de aula se fechou atrás dela, Severo lançou um feitiço de privacidade, e num ataque de raiva arremessou no chão tudo aquilo que estava em cima da sua bancada de trabalho, sem sequer se importar se os frascos com as poções recém feitas tivessem aquele infeliz destino, se estilhaçando no chão e se perdendo sem a menor chance de recuperação, não faria diferença afinal nenhuma equipe tinha conseguido chegar à coloração adequada, e a única que realmente tinha feito um bom trabalho foi justamente aquela em que a poção havia sido sabotada, sim é claro que Severo sabia o que tinha acontecido, ele era capaz de enxergar o obvio, e sem contar que o responsável não se deu sequer o trabalho de averiguar se o ingrediente que estaria utilizando era adequado e não o acusaria de alguma forma, afinal poucos eram os insumos que poderiam produzir aquela coloração e efeito e não definitivamente nenhum daqueles ingredientes aplicados nessa poção teriam potencial para aquilo, mas o que esperar de cabeças ocas do primeiro ano, certamente o subjugaram o reduzindo a um professor medíocre qualquer.

Severo sabia exatamente qual das suas cobras tinha sido a responsável por todo aquele caos, Carla Diaz aquela garota tão pretensiosa e cheia de si ao mesmo tempo que era tão tola e descuidada, era mais do que notável que as garotas não havia se dado bem desde o primeiro minuto em que se viram, e ele tinha percebido algumas trocas de olhares hostis entre elas antes mesmo do ocorrido o que denunciava que ele teria um problema ali, sim ele era analista o suficiente para perceber isso, a menina estava certa sobre a sua poção, mas não era tão simples assim, e ele não podia simplesmente acatar a acusação daquela forma, não sendo ele quem era e representando o papel que desempenhava, e jamais depois dela tê-lo enfrentado daquela maneira o questionando em sala de aula na frente de todos da forma como ela fez, ele estava irado como consequência óbvia e ela para ajudar não tinha nenhum controle de impulsos, o que aquela garota estava pensando?

E por que dentre tantos outros alunos ela estava sentada e trabalhando justamente com uma maldita Grifinória? Isso dificultaria em muito as coisas, e claro que ele queria ensinar uma lição para ela, mas ao sentar na sua frente e se concentrar naqueles olhos verdes, os mesmos olhos de Maeva, sendo ela a criança que era, ele simplesmente não conseguiu prosseguir e nem dizer metade de tudo que ele realmente queria ter dito naquela hora e entre algumas poucas palavras rudes ele apenas conseguiu pedir para que ela aguardasse a aula terminar, sim ela o desestabilizava e o fazia recuar, aquele olhar...

De qualquer forma, ele não estava esperando por aquele tipo de desfecho, ele não tinha mais dúvidas sobre o passado daquela criança em relação aos maus tratos que ela havia sofrido, não depois das revelações na enfermaria, aquilo era forte e o incomodava, muito mais do que ele gostaria, Severo não queria qualquer vínculo com aquela criança, e numa medida protetiva ele passou a ignorá-la, mas a verdade era que a cada dia que passava estava ficando mais difícil ter que lidar com a existência dela ali, maldita Maeva você premeditou isso tudo não foi? Aquela criança soava como um alerta, tinha tanto por trás daquele olhar, e da sua história, e havia o motivo pelo qual Maeva tinha optado em escondê-la do mundo bruxo, e ela tinha razão, ela poderia estar correndo sério perigo, e saber que o segredo não estava tão seguro como ele imaginava, validava ainda mais aquela preocupação e o fazia ter pesadelos, quem era aquela mulher por de trás da varinha? Como ela poderia prever acontecimentos futuros? E tudo isso passou a invadir os seus sonhos, Severo estava condenando aquela criança querendo ou não.

E como se não bastasse ainda havia o problema com aquele bastardo do professor de defesa, aquilo surgiu do nada e a criança estava confusa, aparentemente misturando a realidade atual com alguma outra do seu próprio passado, era possível que os abusos que ela sofreu fossem além das agressões físicas? O comportamento dela indicava que sim, o desconforto apresentado era característico de alguém que havia perdido a ingenuidade e que podia identificar sinais de alerta numa determinada situação, algo que uma criança normal nessa idade jamais perceberia, o olhar dela era revelador e por mais que ele insistisse em auto afirmar que aquela criança não era sua responsabilidade, ele não conseguia, ela despertava algo improvável nele, não... não, ele não queria nada disso, malditos pensamentos, maldita garota, maldito passado.

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