Futuro - Natal parte I

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Severo estava em seus aposentos, sentado de maneira confortável em sua poltrona no seu quarto, tentando sem nenhum sucesso se concentrar em alguma leitura qualquer, enquanto de tempos em tempos encarava o relógio de parede a sua frente, havia passado da meia noite agora, era natal... faziam 12 anos desde aquele 25 de Dezembro, aquele que havia dado início a todos os seus problemas futuros, as vezes ele se perguntava o que teria acontecido se ele não tivesse ido até ela naquela noite... Mas a verdade, a grande verdade era que se ele pudesse mesmo voltar no tempo, e voltar para aquele dia especifico... ele teria feito exatamente igual, isso era curioso... ele poderia mudar tantas outras coisas em sua vida no passado, mas não aquele dia, não aquele encontro, que se tornou o primeiro de tantos outros que viriam, e tudo havia começado justamente em um 25 de dezembro qualquer.

Ele suspirou, Maeva tinha razão... ele já não era mais fiel a causa, antes mesmo de ter motivos concretos para tal, ele questionava suas missões, os interesses por trás delas, seu coração a muito não estava naquilo, se é que um dia esteve... ele havia se deixado influenciar... por Lucius, pelos demais... havia muito envolvido, como... poder, glória e prestigio... e tudo isso era bom, relativamente bom, ele não era hipócrita para negar algo assim, mas depois de um tempo nada ali o preenchia mais... e ele teve muita sorte em não ser pego, nas inúmeras vezes em que deixou de cumprir uma ordem, ou omitir informações, mas ele tinha as costas quentes, ele era o melhor mestre de poções da Europa, ele era sagaz, e ele foi longe, muito longe, se tornando o braço direito do seu mestre, posição muito almejada pelos demais, ele fez inimigos, muitos inimigos, mas ele não se importava.

Maeva estava na ordem, ela era esperta, e completamente engajada pela causa, ela lutava por propósitos e lutava por pessoas, o seu coração não estava em coisas materiais, muito menos em qualquer destaque social, ela se realizava com coisas simples, ela via beleza onde não havia nenhuma, e ele nunca conseguiu entender aquilo, eram opostos, ambos... mas ainda assim ele e Maeva passaram a se encontrar mais e mais vezes, sempre às escuras, ambos haviam concordado com o sigilo daquilo, estavam arriscando, Maeva exercia alguma influência nele, mas ele era orgulhoso e ele não era bom... não como ela achava que ele era e como ela costumava repetir, e muito menos como ela merecia que ele fosse, eles brigavam quase na mesma proporção em que se reconciliavam, ele era difícil o bastante, e ela era incisiva, não à toa que Antony, aquela maldita ave tagarela não o suportasse, Severo fazia mais mal a Maeva do que o bem que deveria.

De qualquer forma não durou muito, eles se relacionaram por um pouco mais do que cinco meses, não era muito tempo, embora tivesse sido intenso, até o dia que ela partiu definitivamente de sua vida, sem dar qualquer explicação, deixando apenas aquele mísero bilhete, ele nunca entendeu o motivo daquilo e o orgulho nunca o permitiu buscar por respostas... mas ali estava ele, doze anos após, agora ele sabia, sabia muito, ela estava gerando uma criança a sua criança, as circunstâncias eram as piores possíveis, mas era difícil admitir o quão certa Maeva estava sobre tudo aquilo, primeiro sobre ele e sobre sua lealdade, segundo sobre a criança e sobre manter a gestação em sigilo, principalmente sobre sua paternidade... ele olhou para a porta, ele havia optado em deixá-la semiaberta, Shara estava com dificuldades para dormir, o que era esperado... aquele tinha sido um dia insano para todos, e ela não lidava muito bem com situações difíceis como uma perda, embora ela fosse forte em sua maioria das vezes... mas seu histórico era ruim... e isso sim era o único e grande agravante em tudo aquilo, Shara não merecia ter passado e vivido tudo aquilo, havia um nome a quem culpar... Elza, e havia uma certeza, ele viveria para vê-la destruída... seus pensamentos foram interrompidos no exato instante em que ele notou a porta sendo aberta.

_Me desculpe - Shara pediu sem graça.

_Problemas para dormir? – ele perguntou, fechando o livro com um baque, encarando ali os olhos verdes da sua filha, era mais do que óbvio que eles exerciam alguma espécie de encanto sobre ele, afinal por qual motivo ele a havia trazido para junto dele mais uma vez essa noite? Ele a queria por perto, era obvio e aquilo nada tinha a ver com doces.

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