Capítulo 1

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25 DE AGOSTO... 19 HORAS...

NATALIE NARRANDO...

Era dia de grupo de apoio, meu chefe não me deixou voltar ao trabalho porque segundo ele, eu estava instável emocionalmente. Ele queria equilíbrio de uma mulher que perdeu o marido e descobriu uma gravidez ao mesmo tempo aos 36 anos e tem um filho de 2 anos que não para de perguntar do pai porque não entende que ele nunca mais vai voltar. Eu estava receosa de participar desse grupo, mas fui... Cheguei lá, peguei um donut e um café, cumprimentei algumas pessoas e logo nos sentamos num circulo. Tinha umas 15 pessoas ali, era o salão de uma igreja, não era longe de casa, eu morava em Lenox Hill próximo a Manhattan, um bairro bem localizado. Estou em busca de uma casa em Long Island, mais afastado da agitação do centro de Nova York e ficava a 25 minutos do Mount Sinai o hospital que eu trabalho. Logo alguém chegou apressada e quando ela tirou a touca do casaco era ela, a minha vizinha misteriosa, toda de preto como sempre.

XX: Boa noite a todos, para quem não me conhece, meu nome é Tereza Chapman sou psicóloga do exército americano e especialista em casos de TEPT. Como sabem, esse é um grupo de apoio a familiares que perderam um ente em alguma missão, que serviu ao exército, ao governo de alguma maneira. - As primeiras pessoas começaram a falar e logo foi a minha vez.

Eu: Oi... Eu não sei bem como começar a falar sobre isso. Meu nome é Natalie Smith Colman, eu perdi meu marido a um mês. John era capitão da Air Force e eu era médica no zona verde no Afeganistão até que eu fiquei grávida e tive meu filho. Eu fui dispensada como tenente e hoje trabalho no Mount Sinai como cirurgiã geral e de trauma. Eu tenho um filho de 2 anos, o nome dele é Aiden e tem sido muito difícil lidar com o Aiden desde que o pai dele se foi. Ele sente muita saudade e eu não sei mais como explicar a ele que o pai não vai mais voltar. – deixei cair uma lágrima. – E por uma grande ironia do destino, no dia em que meu marido chegou num caixão aqui em Nova York eu passei muito mal e descobri que eu estou grávida. Estou grávida de 3 meses. Ainda não sei o que é o bebê. Enfim... – suspirei – Tem sido difícil pensar em como vai ser a nossa vida sem o John, mesmo tendo consciência de que isso poderia acontecer a qualquer momento.

Tereza: Como está a convivência com a família dele?

Eu: Não é grande coisa. Os pais dele são dois insuportáveis. Eles queriam que eu abortasse quando souberam da gravidez, dizendo que não era justo colocar uma criança no mundo que não vai conhecer o pai porque ele faleceu.

Tereza: Que absurdo.

Eu: Pois é. Eu nunca fui próxima deles, pelo contrário, quanto mais distante deles, melhor pra mim. John também não se aproximava muito deles. Agora preciso descobrir como vou viver sem ele com duas crianças pequenas, e ainda encontrar uma casa pra gente, porque não posso manter meus filhos presos num apartamento. – me disseram muitas coisas, eu fiquei muito emocionada, me senti acolhida. Logo foi a vez da minha vizinha misteriosa.


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