Capítulo 3

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No dia seguinte amanheci com um enjoo terrível. Os enjoos estavam acabando comigo. Eu vomitei muito e depois tomei um banho para me sentir melhor. Fui ver meu filho, ele ainda dormia, o Aiden era um bichinho preguiça pela manhã. Eu fui fazer o café da manhã, essa tem sido minha rotina já que não tenho permissão ainda para voltar a trabalhar. Arrumei a mesa, tomei meu café sozinha, fui checar meus e-mails, respondi todos. Logo ligaram da portaria avisando que tinha uma caixa pra mim. Dei uma olhada no meu filho que ainda dormia pesado e então desci rapidamente para pegar a caixa, já era outro porteiro naquele horário. A minha vizinha do andar de cima chegava com o filho dela.

Pri: Bom dia Ely. Pode pedir para o folgado do vizinho do 802 estacionar o carro dele direito porque ele está ocupando metade da minha vaga e eu não consegui estacionar? Meu carro está de fora. – falou um tanto irritada.

Ely: Ele não aprende nunca dona Priscilla. Eu vou falar com ele. Me dá sua chave que eu estaciono para senhora. – ela entregou.

Pri: Obrigada Ely. – eu entrei no elevador e segurei a porta pra ela. – Obrigada.

Eu: Imagina. Como seu pequeno está?

Pri: Está um pouco molinho, irritado, mas está melhor né filho? – ele estava sonolento. – Ele normalmente fala com todo mundo, mas hoje ele está caladinho.

Eu: Eu entendo. Se precisar de alguma coisa só me chamar, eu moro no sétimo andar, apartamento 701 eu sou médica.

Pri: Te vi no grupo ontem. Natalie não é?

Eu: Sim.

Pri: Muito obrigada Natalie. – deu um sorriso sem mostrar os dentes. Eu sai do elevador e ele subiu com ela e o filho dela. Ela tinha um olhar triste, a história dela era bem triste, mas tinha algo a mais, e eu queria entender o que era. Entrei em casa e na caixa tinham algumas coisas que pertenciam ao meu marido. Vieram do Afeganistão. Tinha um diário, algumas cartas que eu mandei a ele e que ele mandaria pra mim, objetos pessoais, a aliança dele, um escapulário também. Eu não vi o corpo do meu marido. Disseram que ficou irreconhecível devido a explosão, só confirmaram pela arcada dentária. John andava estranho a algum tempo e quando ele viajou para a ultima missão a três meses, ele estava esquisito, distante. Guardei algumas coisas, e outras eu jogaria fora. As cartas eu guardei tudo sem ler, eu não estava preparada pra isso ainda. Meu filho acordou e veio pedir o leite com chocolate dele.

Aiden: Bom dia mamãe...

Eu: Bom dia meu amor... – o peguei e o beijei. – Dormiu bem?

Aiden: Dormi. Eu quero meu leitinho.

Eu: Eu vou fazer seu leitinho. – o coloquei na cadeira. Fiz o leitinho dele, fiz uma panqueca, peguei umas frutas, presunto e queijo pra ele. E ele ficou comendo quietinho enquanto eu lia algumas coisas no computador. Dei um banho nele e fomos passear um pouco. A babá viria a tarde, ela pediu folga de manhã. Dei almoço ao meu filho, almocei, a babá chegou e eu fui resolver algumas coisas na rua, fui ver casas e por uma coincidência encontrei a vizinha. – Priscilla? – ela se assustou.

Pri: Que susto. Está me seguindo? – falou séria.

Eu: Não. Claro que não. Estou vendo casas, não vejo a hora de sair daquele apartamento. – parei para pensar uns segundos – Por que eu estaria te seguindo?

Pri: Nada... – suspirou. – Eu também estou procurando casas, quero um lugar mais seguro e com mais espaço para o meu filho crescer e a minha filha gritar e bater a porta na minha cara. – sorriu sem humor.

Eu: Adolescentes são difíceis. Gostou de alguma?

Pri: Sim. Estou querendo aquela do final da segunda rua.

Eu: Eu gostei dela, mas achei muito gigante pra mim, quero espaço, mas não tanto. E ela tem um porão bem assustador.

Pri: É perfeita pra mim, fiz uma proposta nela.

Eu: Eu gostei da casa do inicio da rua.

Pri: Ela é bonita.

Eu: Sim.

Pri: Precisa cercar a piscina, por causa da criança.

Eu: É, foi a primeira coisa que notei. Seu filho está bem?

Pri: Está. A babá ficou com ele. – suspirou.

Eu: Posso perguntar o que ele tem?

Pri: Ele tem convulsões. Meu filho tem um tumor no cérebro, ele será operado em dois meses.

Eu: Nossa. Ele é tão pequeno.

Pri: Ele nasceu com o tumor. É raro. Mas era muito pequeno para retirar. Ele será retirado em dois meses e ficará bem. Ele é um garoto forte.

Eu: Que ótimo, vou torcer por ele.

Pri: Obrigada. E seu filho, como está com a perda do pai?

Eu: Triste. Pergunta dele, se ele vai voltar, diz que está com saudade. E para piorar eu tenho uma sogra insuportável que resolveu se meter na criação do meu filho, sendo que ela nunca se importou quando o filho dela estava vivo.

Pri: Meu sogro é assim. Minha sogra é mais tranquila, é compreensiva, mas já anda perguntando se eu estou namorando alguém. Ela é uma boa avó, liga todos os dias, já veio para NY ver os netos umas 4 vezes desde que me mudei pra cá. Parece que está tentando arrumar uma nova mãe para os netos e isso me incomoda. – paramos em frente aos nossos carros que por sinal estava um atrás do outro.


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