Capítulo 5

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PRISCILLA NARRANDO...

Eu precisava encontrar uma casa logo. Me sentia muito vulnerável naquele prédio onde todo mundo sabe da vida de todo mundo, onde todo mundo te vê entrar e sair e você precisa estar num grupo de whatsapp para informações de condomínio. Eu pago uma fortuna num storage para manter um equipamento caríssimo que eu não confiaria jamais no meu apartamento porque todo mundo ali é curioso demais. Encontrei aquela vizinha de novo. Parecia até perseguição. Ela estava procurando casa também e deu oferta na casa da esquina da que eu dei oferta. Fomos tomar um café, conversamos um pouco sobre nossas vidas. Eu ficava estranhamente confortável com ela, de fato era muito estranho pra mim. Eu não me abria assim com ninguém e ela me deixava tão a vontade que eu me sentia ainda mais vulnerável. Eu precisava me mudar logo, mas não fugiria dela tanto tempo já que provavelmente seriamos vizinhas. Depois de uma semana o corretor me ligou dizendo que aceitaram minha oferta e que a casa era minha, mas antes teria que passar por uma avaliação para que eu pudesse fechar negocio. A empresa especializada iria lá a tarde para checar o sistema de ar condicionado geral da casa, de aquecimento, os canos, a fiação, se tem problemas com pragas para ai sim bater o martelo e assinarmos o contrato. Era uma casa nova não precisaria de reformas. No dia seguinte recebi o relatório, a casa estava perfeita. Marcamos para assinarmos o contrato, a escritura nova para dali 3 dias. Falei com meu gerente do banco, meu apartamento era alugado já que eu tinha vendido minha casa em Washington para comprar uma casa em NY. Meu filho não estava se sentindo bem. Nick tem vomitado com frequência, está fadigado e sonolento.

Anny: Dona Priscilla?

Eu: Sim Anny?

Anny: O Nick está com febre, e acabou de vomitar. – eu desliguei o computador e fui até o quarto dele.

Eu: Oi filho... Oi garotão... Está dodói? – ele assentiu. – Anny, liga pra doutora Marcelly vê se ela está no pronto socorro pediátrico do Mount Sinai.

Anny: Ok. – ela foi ligar. Logo ela voltou – Anny, ela está sim dona Priscilla e pediu para leva-lo até lá.

Eu: Ok, obrigada Anny. Sabe da minha filha?

Anny: Ela disse que ia dormir na casa de uma amiga do colégio. Não me lembro o nome dela.

Eu: Ok... - o troquei, a Anny fez uma bolsa pra ele e fomos até o hospital. Fiz a ficha dele e a Marcelly logo o examinou. Ela o levou para fazer alguns exames e logo voltou. E ai?

Marcelly: Chegou a hora Priscilla. Vamos operar.

Eu: Sério? – meu coração disparou.

Marcelly: Sério. Ele está muito letárgico, ele não está bem e é o tumor. Ele cresceu o suficiente para tirarmos sem deixar sequelas graves ou deixar qualquer tipo de sequela.

Eu: Tá – respirei fundo e soltei o ar – Quando vai ser?

Marcelly: Ele vai fazer os exames pré operatórios agora preciso que assine pra mim, e se estiver tudo ok, vou trazer a autorização para a cirurgia pra você assinar.

Eu: Tá bom. Eu posso ficar com ele enquanto passa pelos exames e aguardamos os resultados?

Marcelly: Pode sim, vamos... – fui para o quarto que ele estava, assinei os papeis que ela pediu e começaram a fazer os exames. Ele chorou, ficou manhoso, logo tudo acabou e era só esperar. Eu o ninei e ele acabou dormindo. Eu estava ansiosa, preocupada. Minha cabeça doía, eu ouvia disparos, eu ouvia o telefone tocando, eu via o caixão lacrado da minha mulher os policiais me afastando. Eles nunca me deixaram chegar perto dela, ver o rosto dela e aquilo me deixava muito perturbada. Era uma bagunça de visões e sentimentos. Depois de uma hora e meia ela voltou dizendo que estava tudo certo e o centro cirúrgico estava sendo preparado. Então as enfermeiras viriam prepara-lo para a cirurgia, iriam cortar o cabelo dele, fazer a marcação. Eu acompanhei tudo de perto assinei a autorização, meu coração estava a mil. Depois de quase uma hora de preparação, era chegado a hora.

Eu: Filho você vai tomar um remedinho com gostinho de morango, você vai dormir um pouquinho e a mamãe vai ficar aqui esperando você ok?

Nick: To com medo mamãe...

Eu: Não fica com medo filho, a mamãe está aqui esperando por você ok? Você vai ficar bom, não vai mais ficar cansado. Adivinha só? A mamãe comprou uma casa grandona com piscina e vai fazer um parquinho pra você no jardim. – ele comemorou. – Eu te amo tá? Te amo muito. A mamãe está aqui te esperando minha vida. – o enchi de beijos, fui até o corredor da cirurgia e ele já estava até dormindo.

Marcelly: Ele vai ficar bem. A cirurgia deve demorar em media 5 horas.

Eu: Tá...

Marcelly: Vou pedir alguém para vir a cada uma hora para dar noticias.

Eu: Cuida bem dele, por favor. Obrigada.

Marcelly: Eu vou cuidar. – ela entrou na cirurgia. E eu estava ali, sozinha. Não tinha a Julie do meu lado, minha família não estava ali. Eu comecei a chorar. Eu não estava me sentindo bem. De repente parecia ter muita gente a minha volta, aquilo estava uma loucura. Tudo estava girando até que alguém me segurou.

XX: Priscilla... Priscilla... Está tudo bem?

Eu: Eu... Eu... Meu filho... – chorava apavorada. Quando eu vi quem era eu me assustei, era a Natalie. Essa mulher está em todos os lugares.

Nat: Priscilla? Está tudo bem?

Eu: Sim... Não... Quero dizer...

Nat: Calma, sente-se – ela me sentou numa poltrona aferiu minha pressão e logo veio com um copo d'água e um comprimido. – É alérgica a algum medicamento?

Eu: Não.

Nat: Toma isso. Vai se sentir melhor. – eu tomei. Eu nem sabia o que estava tomando. Depois de alguns minutos meu coração batia mais devagar, minha cabeça parecia pensar mais devagar. – Sente-se melhor?

Eu: Sim. Obrigada.

Nat: Você tem TEPT?

Eu: Tenho, mas quase não sinto nada. – suspirei.

Nat: Você teve uma crise. Olhei no prontuário eletrônico seu filho está sendo operado. Pedi informações e a cirurgia está indo bem.

Eu: Obrigada.

Nat: Está aqui sozinha?

Eu: Sim. Eu ia ligar pra minha mãe, mas ainda não consegui e também não adiantaria muito, ela não está aqui. Minha filha está na casa de uma amiga.

Nat: Sua mãe mora aqui?

Eu: Minha mãe mora em New Jersey, mas está no Brasil visitando meu irmão.

Nat: Tem mais alguém que possa ligar para ficar aqui com você?

Eu: Lohana, minha amiga. Desculpa, eu não consigo fazer isso agora. – eu ainda estava um pouco desnorteada.

Nat: Me dá seu telefone, eu ligo pra ela. – eu desbloqueei e dei a ela. Eu fiquei pensando em mil coisas. No meu filho, na minha mulher, na minha pequena que não teve a menor chance e minha sede por vingança só crescia. Sai dos meus pensamentos quando Natalie me chamou dizendo que a Lohana me encontraria em meia hora no hospital. – Ela vem em meia hora. Vou ficar aqui com você até ela chegar.

Eu: Obrigada... - peguei o telefone. – Desculpa perguntar, mas o que faz aqui?

Nat: Eu trabalho aqui. Estou afastada, mas hoje precisaram de mim para um trauma em caráter emergencial então eu vim ajudar.

Eu: E o paciente sobreviveu?

Nat: Infelizmente não. O caso era o mesmo que cobrir a rachadura de uma usina hidrelétrica prestes a romper com um band-aid.

Eu: Uau...

Nat: Foi melhor pra ele. Perdeu os braços e as pernas, o que queriam era um milagre.

Eu: A morte acabou sendo "vida" pra ele.

Nat: É... – suspirou. – Ele tem duas filhas pequenas. Uma de 2 anos e meio e uma de 7 meses.

Eu: Quando tem crianças fica muito mais difícil.

Nat: Fica.


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