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JÁ SE PASSARAM dois dias depois que aquela garota bateu na traseira da minha Mercedes, tive que comprar outro carro - uma BMW branca mais bonita. Realmente, foi um sofrimento perder aquele carro, não havia nem dois meses nas minhas mãos. Tudo por culpa daquela minha aluna que não sabe dirigir direito.
Meu celular toca em cima da mesa do escritório, me tirando de devaneios absortos. É a minha irmã, Mary.
- Oi, querida.
Posso prever o seu sorrisinho tímido. Mary é a casula da família, chata, mas todo mundo a ama. Depois vem a Liara, nossa prima. Eu namorei ela ano passado, mas não deu certo por culpa dela. As duas são idênticas uma com a outra.
- Oi, irmãozinho. Tudo bem?
- Mais ou menos.
- Por quê? Sua vida é maravilhosa.
- Hum...
- Você é rico, famoso, gato e médico - ela fala com ironia, como qualquer garota da idade dela que não sabe nada da vida.
- É? Médicos também têm seus problemas, Srta. Maryelli Blanchard - sorrio, mas preocupado com o meu bem-estar, às vezes eu exagero no que faço. Trabalho muito a ponto de não ter nem tempo para comer em paz.
- Você tem que se divertir, sair um pouco. Vai ter uma festa no sábado perto do apartamento do Ramon. Vamos?
- Ah, sério? E se me chamarem no hospital? Você vai ter que ficar sozinha na festa e eu não vou deixar.
É essa a minha preocupação, sempre que vou a uma festa, me ligam do hospital ou da clínica.
- É só desligar o celular que ninguém vai nos atrapalhar.
Ah, céus! Só podia ser a Mary com esses truques petulantes.
- Tudo bem.
Ao ouvir o meu sim, ela grita. Meu Deus, que gritinhos insuportáveis. Tiro o celular do ouvido e faço beicinhos para a tela.
- Não acredito que você vai sair comigo. Leonel, esse evento vai estar cheio de mulheres - diz ela muito empolgada.
Hum.
- Ainda bem que você divorciou da Jaqui Billy. Não suporto ela.
- Mary, por favor, não toque nesse assunto. Então, sábado à noite eu passo na casa dos nossos pais para te buscar. Ok?
- Ok.
- Beijos. Te amo.
- Eu também.
Termino o trabalho e desço para tomar meu café da manhã, acho que hoje vou à praia - o dia está lindo. Ainda são sete horas, tenho tempo suficiente para isso.
A Sra. Tânia Bouvier está na cozinha. Ela é uma senhora de meia idade que trabalha comigo há anos. Sabe mais do que ninguém o passo dentro de casa, conhece os meus gostos e é uma cozinheira de mão cheia.
Sento em dos bancos da bancada de mármore e observo-a. Ela me olha e sorri.
- Bom dia, Dr. Blanchard.
- Bom dia, Sra. Bouvier.
- O que quer para o café, doutor?
- Ovos mexidos e suco natural. Ah... Coloque um pouco de frutas no meu café.
- Sim, senhor.

A PRAIA NÃO ESTÁ LOTADA como semana passada, tem pouca gente agora, de manhã. Odeio vir aqui e encontrar essa droga lotada de gente.
Caminho na areia, sentindo as águas baterem no meu pé, levanto a barra da calça branca e desabotoo minha camisa azul clara, deixando meus peitos nus. Duas mulheres cruzam meu caminho, radiando um sorriso falso ao me ver fazendo isso.
- Oi, lindo - diz uma delas.
Ignoro as assanhadas secamente. Dou uma olhada nos prédios à frente e vejo uma ruiva no 19° andar, no apartamento da Sra. Annie Montevidéu, uma médica que trabalha na minha clínica.
Uma bola rola ao redor dos meus pés, um menino vem até mim e a pega. Ele me olha, curioso. Não gosto de curiosos. E ele tem um binóculo pendurado no pescoço.
- Ei, garotinho.
- Pois não, senhor.
- Pode me emprestar esse binóculo por um minuto?
- Sim, tome - ele se desvencilha do objeto rapidamente.
Pego-o nas mãos e levo aos olhos. Não acredito. É ela mesma, Esther, a que bateu no meu carro, a minha aluna, e está só de lingerie. Droga, agora estou fascinado por essa vista. Ela está linda, gostosa. Acho que vai descer. Por enquanto, vou me sentar e tomar uma água de coco. Entrego o binóculo do garoto, que esperava ansioso pelo seu brinquedo.
- Obrigado - dou um sorrisinho.
- De nada.
Por que essa menina, isso mesmo, menina, me atrai?
Porra, pare com isso, ela é uma criança para você.
Não! Tudo, menos uma criança. Ela é uma lídima, só isso, pura e genuína.
Respiro. Ela tem que ser minha. Mas você vai sair com ela sem compromisso. Foda-se! Eu quero ela.
Depois de uns quinze minutos, volto à caminhar e, bem na minha frente, a vejo distraída com algo. Achei que não ia descer.
Aproximo mais ainda e, de repente, ela tropeça nos próprios pés traidores, e eu a seguro firme em meus braços. Tão frágil... tão linda...
- Ai - geme ela, me fitando com aqueles lindos olhos verdes.
- Ora, ora, Srta. Esther Winkler sendo salva por mim - murmuro próximo à sua boca rosinha e carnuda.
- Ai, não me aperte tanto - fala de mansinho.
Quero beijá-la em todos os lugares, senti-la.
A voz dela me excita, é impressionante. Nunca me senti excitado ouvindo apenas a voz de uma mulher.
Eu preciso que ela seja minha.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora