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- O que você quer?
Ergo uma sobrancelha em desaprovação.
- Ah, é? Vai ser assim? Quer que eu te trate com grosserias?
Ela emudece.
- Responda - altero a voz.
- Não - murmura.
Sento ao lado dela na cama. Posiciono o tornozelo direito no meu joelho e suspiro.
- Largue o celular, Maryelli.
Ela obedece, deixando o aparelho de lado. Olho para o teto, suspiro novamente e volto a atenção para Mary.
- O que você fez?
- Gastei o dinheiro do papai num evento da minha escola.
Levo a mão na cabeça.
- Ele se irritou comigo e a mamãe também.
- Vai ficar enfiada aqui dentro o domingo inteiro?
- Talvez, não tenho nada para fazer. Queria trabalhar amanhã.
Sorrio apreensivo, pegando as mãos dela. Minha irmã quer trabalhar...
- É muito bonito uma garota da sua idade querer um trabalho tão cedo.
Ela sorri e cora.
- Posso levar você na faculdade um dia desses para me ver dando aulas. O que acha?
- Perfeito. Como é lá?
- Agitado, cheio de estudantes medrosos.
Rio, ela também me acompanha.
- Por que medrosos?
- Ah, alguns não aguentam dissecar um corpo humano sob a olho nu.
- Sério?
Assinto com a cabeça.
- Você corta carne humana, credo!
- Sou cirurgião e ortopedista, Maryelli. Preciso fazer isso.
- Deve ser nojento.
Dou de ombros.
- Para mim, é normal.
- Não fede lá dentro do laboratório?
- Uma substância chamada formol impede que os corpos fiquem com mal cheiro.
- E você ensina isso aos alunos?
- Eu e mais quatro professores. Você conhece o Oliver?
- Conheço.
- Ele também dá aulas comigo.
- Ahn.
Ela encara o lençol branco da cama, meio triste.
Ah, Deus!
Aconteceu alguma coisa, eu a conheço muito bem.
- O que foi, meu anjo? - pego seu queixo. Vou bancar o irmão compreensivo agora.
- Terminei com o Davidson.
Um turbilhão de lágrimas aglomeram em sua face. Ai, meu Deus! Coço meu coro cabeludo. Não tenho filha, mas essa aí já serve como uma.
- Bem, talvez, não esteja na hora. Entende? Você é muito nova.
- Não, eu vi ele com outra, Leonel.
Meu coração dispara ao ouvir isso. Não acredito que aquele moleque traiu a minha querida irmã depois de tudo que falei para ele. Odeio traições! A cena da Jaqui com três homens na minha cama me vem à mente. Droga! Não pense nisso. Dessa maneira você vai virar um psicótico. Abraço Mary.
- Calma, Mary - afago seus cabelos negros, que batem nos ombros. É tão liso quanto da Esther. Maryelli começa a chorar, soluçando.
- Eu gostava dele, Leonel.
- Shhh... Maryelli, você tem muito o que aprender sobre os homens. A maioria não prestam.
- Eu sempre imaginei que ele fosse o cara certo.
- Olhe para mim.
Desvencilho-me dela. Olho no fundo dos seus olhos.
- Você ainda é virgem, não é?
Do contrário, eu acabo com esse tal de Davidson.
Ela vira a cara. Emudece por um tempo, mas fala:
- Sou.
Ufa! Ela é virgem, Jesus Cristo.
- E ele não tentou nada?
Meus olhos escurecem. Anda, Mary, fale.
- Tentou, mas eu não queria. Sempre que ele pedia, eu me lembrava daquilo que você havia me falando.
- Ah, Mary, meu amor - abraço ela de novo. Suas lágrimas caem em meu blazer, molhando-o. Ela soluça várias vezes.
- Calma. Eu disse para você que não estava na hora. Você só tem quinze anos.
- Eu sei - e me solta. - Como foi sua primeira vez?
Ela cobre o rosto com as mãos, me olhando envergonhada, por entre o vão dos dedos do meio. Dou uma leve risada gutural, relembrando do que Deborah e eu fizemos.
- Bem, minha primeira vez foi com uma prima nossa.
- Quem? - ela fica surpresa, e parece estar interessada em saber.
- Foi com a Deborah.
Mary cai na cama com as mãos na boca, pasma. Ela ri tanto que eu fico envergonhado.
- A Deborah?
Faço que sim com a cabeça.
- Ih? - ela gesticula com as mãos para eu continuar.
- Estávamos brincando de encher a cara com cerveja. O pai dela havia bebido também, com a tia Katia, quando deixou as garrafas na mesa. A Deborah estava muito exultante por conta da bebida. Eu fui para a cama dela tentar dormir, mas fiquei muito insone, ela também. Deborah me lascou um beijo da porra, eu fui à loucura. Ela sentou em cima de mim sem calcinha, eu não aguentei, fiquei cheio de tesão e aí aconteceu. Foi gostoso.
Mary continua rindo, eu acompanho a risada contagiante dela. É, Mary, foi gostoso para cacete.
- Quantos anos vocês tinham naquela época?
- Eu tinha treze, ela tinha doze.
- Nossa! A Deborah era assanhada mesmo.
- Ainda é - acrescento depressa.
- Por isso vocês dois são tão íntimos.
- Pois é.
- Continuaram depois da primeira transa?
- Muitas vezes. Quando eu namorei Deborah, às escondidas do pai dela, você não existia.
Ela sorri.
- Safadão - e dá um tapinha em meu antebraço.
- Vamos descer, vamos.
- Está bem.
Ela calça os sapatos e fica em pé, aliviada.
- Primeiro as damas - conduzo ela para a porta.
- Não, doutor, primeiro os mais velhos - ela faz um gesto com as mãos. Dou de ombros, como quem não liga.
- Ok - saio.
- Eu estava brincando, Leo - resmunga pelo corredor, fazendo-me rir.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora