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Você não pode continuar se relacionando com ela. Não, não posso deixar outro se apoderar dela, mesmo eu transando sem compromisso.
Ela se põe de joelhos na cama, com o coberto cobrindo o corpo e se aproxima de mim, deixando um beijo com reverência no canto da minha boca. Fico impassível diante do gesto carinhoso dela.
- Não se preocupe, doutor, eu vou fazer o possível para manter nossa relação em sigilo.
- Você fodeu com tudo, Esther. Por que não disse antes que tinha dezessete anos?
Ela pega meu rosto com ambas as mãos, mas eu giro a cabeça para os lados.
- Me desculpe.
- Eu posso ser preso - balbucio.
- Mas eu não vou falar nada a ninguém.
- Ah, Esther! Por que não me disse antes?
- Porque você nunca perguntou.
- Agora me sinto um...
- Um o quê? - interrompe.
- Pedófilo, sei lá.
Ela cai na gargalhada.
- Se eu não quisesse fazer o que a gente fez nessa cama, você poderia considerar-se como um.
- Ah, céus!
- Prometo não contar, já disse.
Meia hora depois de entrar em um acordo com Esther, que, segundo ela, não precisava, descemos para tomar café da manhã. Quando chego na cozinha, as empregadas me olham surpresas, sem acreditar que estou com uma garota em casa. Elas sabem que eu não costumo trazer nenhuma visitinha íntima a essa hora da manhã.
- Esther, estas são as minhas empregadas: Tânia Bouvier e Pérola Levy.
- Prazer, senhorita - diz Pérola profissionalmente.
- O prazer é meu.
- Muito prazer, Esther.
- Igualmente, Sra. Bouvier.
As duas trocam sorrisos uma com a outra, menos Pérola. Ela está formal como sempre.
- Vocês não viram ela aqui, entenderam? - digo para as duas com um olhar pétreo. - Saiam - ordeno em seco. Esther me olha sem acreditar que tratei as empregadas dessa maneira.
- Por que trata elas assim?
- Porque são um bando de fofoqueiras - respondo, ríspido.
- Está zangado comigo?
- Não. Agora, coma sua comida.
- Você sempre acorda de mau humor?
- Às vezes.
- Sua casa é muito grande e bonita - ela observa os móveis da casa, principalmente, o quadro enorme da família Blanchard. Na imagem, minha mãe está sentada numa poltrona marrom, meu pai está em pé, com o braço direito pousado no ombro dela. Eu estou à frente dos meus irmãos, Cristoffer atrás de mim e, atrás dele, Heithor, em seguida, Maryelli.

MAIS TARDE, DEIXO Esther em seu apartamento e me meto numa conversa tensa com Taylison. Explico que minhas intenções com ela são boas. Mentira... Digo também que não sou o tipo de pessoa que ele está pensando, porém - eu não acredito no amor. Quero a Esther na cama sem nenhum compromisso, assim, vou poder ficar livre. Mas o meu maldito coração diz que não devo fazer isso, entretanto o meu prazer está falando mais alto.
Às quatro e cinquenta da tarde, dou uma passada na casa dos meus pais. Todo mundo se reuniu lá hoje mais cedo, menos eu. Minha família fica enorme quando reune irmãos, primos, tias, pai, mãe... Ao chegar, Mary vem saltitando me abraçar.
- Leonel!
- Oi, Mary, linda.
Andamos abraçados no corredor grande da casa até entrarmos na sala de estar, onde todos se encontram numa bela conversa de família.
- Leonel, a Deborah chegou de viagem e está aqui.
- Fiquei sabendo pelo Wallace.
Wallace é um velho mordomo da família, trabalha com os meus pais há anos.
- E como a senhorita se comportou ontem, na festa, depois que eu saí?
Ela sorri.
- Bem. Eu beijei um rapaz.
- Maryelli - repreendo-a.
- Ah, você disse que eu podia.
Mamãe me envolve num abraço apertado quando chego.
- Filho, eu estava com saudades, faz tempo que você não vem aqui.
Dou um beijo nela.
- Falta de tempo, mamãe.
Meu pai, Bryan, se levanta do sofá e me envolve num abraço de homem, sem melancolia.
- É bom ver você, filho - e bagunça a franja no topo da minha cabeça.
Droga. Demorei dois minutos para deixar essa franja lisa.
- Obrigado, pai.
- Por que não veio mais cedo? Poderia ter almoçado com a gente.
- Eu estava com uma companhia em casa.
- Hum... Companhia? - ele sorri.
- É, pai.
- Mal deixou a Jaqui e já está com outra?
- A fila anda, Bryan Blanchard. - Dou de ombros.
Cumprimento o resto do povo. Deborah me abraça bem firme.
- Estava com saudades - murmura em meu ouvido.
Deborah está linda como sempre, usa um vestido curto e preto, os cabelos são castanhos cacheados, é magra, tem olhos negros, é inteligente e gosta de fofocas. Ela também fez faculdade de moda nos Estados Unidos junto com Cristoffer. Ela adora viajar diariamente para lá. Cristoffer e Deborah se dão bem, como irmãos, uma coisa que ela nunca teve na vida. Comigo as coisas são diferentes.
Você também comeu ela.
Passado é passado, não costumo remoê-lo.
Minha primeira vez foi com ela. Um dia, com treze anos de idade, estávamos brincando de encher a cara com bebida alcoólica, estava frio em Bordeaux nessa época. Eu dormi na cama dela, bêbado, ela também estava no mesmo estado que eu. Foi aí que tudo começou. Fiz coisas que, naquela idade, eu não havia acreditado. Nossa, Deborah só tinha doze anos quando transou pela primeira vez.
- Aproveitou bastante em Roma, prima?
- Você nem imagina - bufa ela. - Roma é indescritível.
- Fico feliz por você.
- Cadê a Jaqui?
- Terminei com ela.
- Ai, que chato. Hum... Está solteiro de novo?
- Estou - sorrio com malícia.
- Se bem que... nós poderíamos juntar duas pessoas solitárias - diz, agarrando o V da minha camisa preta. Que isso?
- Poderíamos. Não gosto de remoer passados.
- Não tenho chance?
- Srta. Rick Blanchard, para um bom entendedor meia palavra basta.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora