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- Você não comeu nada?
- Não.
Como pode um ser humano ficar dois dias sem comer comida que preste?
- Quero que vá para casa comer.
- Eu não quero, vou ficar aqui com você.
- Esther, por favor, você está muito magra, seca. Não aguento ver isso - reclamo sem paciência. Ela faz beicinho e me olha.
- Não gosta de mim assim?
- Gosto, mas você está passando dos limites, se alimente melhor - aconselho, olhando no fundo dos seus olhos.
- Eu posso comprar uma comida na rua e comer aqui.
- Não, é perigoso na rua, por favor, eu lhe peço, vá para casa.
Ela revira os olhos, sabendo que perdeu a guerra.
- Está bem, mas eu vou voltar.
- Combinado.
Ela me beija com força na língua, fazendo o meu desejo aumentar. Ficamos um pouco mais apreciando o nosso desejo carnal.
- Quer que eu transe com você nessa maca horrível? - murmuro em sua boca.
- Hum... Quero.
Sorrio, puxando-a para mim.
- Não, Leonel! - grita ao ser pega de surpresa em meu colo. - Não, era brincadeira. Você não pode no estado em que está.
Rio sem parar, parecendo até um menino de dezesseis anos, feliz e alegre. Ela se desvencilha de mim e sai com um sorrisinho bobo naquele lábio rosa, perfeito. É tão gostoso beijar aquela boquinha carnuda. Você foi feita para mim, Esther Winkler. Minha. Sua! sua!
Descanso a cabeça de lado e acabo dormindo. No dia seguinte, acordo me sentindo mais firme e curado. Levo um baita susto com a enfermeira me olhando atentamente. Será que ela estava aí enquanto eu dormia? Descarto essa possibilidade, mas pode ser que sim. Esfrego os olhos incrédulo e pisco duas vezes. A cadela da enfermeira não para de me olhar. Que isso? Seus olhos estão cheios de malícias. Ela sorri. Ergo uma sobrancelha em sinal de desaprovação. Piranha sacana.
- Está flertando comigo, enfermeira? - falo grosso e cruzo os braços. Ela fica rubra e desfaz seu olhar intenso, na hora.
- Perdão, senhor.
- Onde está minha escova de dente?
- Está naquela gaveta com o resto de suas coisas.
Levanto da cama indo em direção à gaveta branca.
- Quer ajuda, Dr. Blanchard?
Ignoro-a e sigo para o banheiro. Onde está minha família? Será que ninguém veio até agora? Já são nove e meia da manhã. E a Esther?
Volto para a cama depois de alguns minutos no banheiro.
Eu já estou me sentindo bem, então não preciso mais ficar aqui. Arrumo minhas coisas e saio do hospital - lugar que detesto, prefiro trabalhar na minha clínica. Mas, como sou um bom médico presto os meus conhecimentos nesse hospital.
Vou direto para um restaurante à pé, que fica perto do metrô. O restaurante é chique. Dou uma olhada no meu celular e vejo que está quase acabando a bateria. Mando uma mensagem de texto para Esther.

*Me deram alta do hospital, estou indo para casa, quero você lá o mais rápido possível. Me espere no quarto, sem roupa.
Beijo!*

Meu celular começa a vibrar, alguém está me ligando. Quem? O número não está na minha agenda.
- Oi.
- Oi.
- Quem fala?
- Sou eu, não lembra?
- Eu perguntei quem é.
A voz soa familiar. Quem será? Fico desconfiado.
- Karla Peterson, lembra agora?
Karla Peterson?... Franzo as sobrancelhas. Ah! Karla, minha ex-namorada. Como ela conseguiu meu número?
- Ora, ora, quanto tempo, Srta. Peterson - sorrio.
- Pois é. Quero recuperar os tempos perdidos, amori.
Conversa fiada... Ela fala para todo mundo amori. Karla Peterson é uma publicitária bem-sucedida da Espanha. Morou no Rio de Janeiro há sete anos, mas, com o tempo se passando, ela resolveu voltar para o seu país - o motivo do qual terminamos.
- E o que posso fazer por você?
- Me satisfazer, Leonel Blanchard, quero jantar hoje à noite com você.
- Não vai dar.
- Por que não?
- Você é casada, Karla.
- Só por isso?
- Não quero me meter em encrenca.
- Ai, Leo, deixa de ser chato. Vamos, por favor. O idiota do meu marido ainda está na Espanha, investigando um caso de criminalidade.
- Ah.
- E aí? Vai sair comigo?

Você não vale um dólar quando está conversando com outra.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora