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NO CONSULTÓRIO UMA MULHER chora de dor, ela está com uma doença muito grave: mioma no útero. Não consegue nem ficar sentada, pois a dor agonizante não a deixa em paz. Ela chora.
- Ah! - grita. - Por favor, Dr. Blanchard, me ajude. Não aguento essa dor insuportável.
- Calma, moça.
Nossa, ela é tão jovem para ter esse problema. Aparenta ter uns trinta e poucos anos, mas já deve ter filhos.
- A senhora tem que fazer uma cirurgia às pressas, senão isso vai virar um tumor dentro do seu útero.
Ela me olha, estupefata. Ofereço a maca para ela se deitar enquanto chamo a enfermeira. Ela minimiza o choro, que já estava me dando dor de cabeça. A enfermeira aparece saltitando pela porta junto com o outro médico. Levo eles para fora de novo.
- O que foi, Leonel? - diz Túlio, um dos médicos da minha clínica.
- A minha paciente precisa fazer uma cirurgia urgente. Vou deixá-la internada por enquanto, mas quero que vocês prepare tudo para uma hora da tarde.
- Mas, doutor, ela não está em condições para pagar os médicos. O preço é muito alto.
- Eu vou pagar por ela.
- Mas, Leonel...
- Mas nada. Quem paga vocês não sou eu? - altero a voz. - Estão aqui para trabalhar, então cumpram com seus deveres.
Eles entreolham um com outro, confusos, até irritados com a minha autoridade. Eu mando nesta bendita clínica, ninguém vai passar por cima de mim aqui dentro. Os puxa sacos vão tudo para o olho da rua, eu garanto.

O FIM DA TARDE ESTÁ chegando, a potência dos raios solares já estão fracos. A noite está prestes à chegar. São cinco horas e treze minutos.
Estaciono o carro na garagem da casa dos meus pais. Estou sozinho, sem a Esther. Mary abre as cortinas do quarto dela para me ver lá de cima, do 4° andar da casa. Ela sorri quando aceno com a mão. Entro pela porta da frente. Wallace, o mordomo, me recebe com um sorriso resoluto e manhoso.
Wallace é gay, minha mãe dizia que, quando eu era criança, ele adorava cuidar de mim. Agora que sou homem, ele quer outra coisa comigo. Realmente, eu sou do tipo unânime, mas sem preconceito. Meus negócios são mulheres. Ele não entende.
- Oi, doutor - murmura, ávido.
- Oi, Wallace - dou um sorriso sardônico para ele.
Minha paciência está esgotada. Odeio puxa sacos. Eu avalio as pessoas que estão ao meu redor antes de empregá-las. Wallace é um deles, mas meus pais que aguentem.
- Cadê todo mundo? - pergunto, caminhando pelo corredor.
- Todo mundo, doutor? - pergunta ele sem entender.
- Meus pais, meus irmãos... Onde estão?
- Ah, lá em cima. Hã... o senhor está muito elegante - balbucia, dasaprumado.
A voz dele é fina quem nem a de Esther, mansa e calma. Subo as escadas, e ele ainda está atrás de mim, rindo. De quê? Paro de andar e olho para ele seriamente.
- Eu sei o caminho, Wallace - digo, cioso, fuzilando-o com olhos.
- Ah, me desculpe.
- A campainha está tocando - alerto.
Ele se retira com passos firmes, e sorrindo de orelha a orelha. O que há com ele? Sua presença o deixa radiante. Segundos depois, estou na sala de star. O pessoal está entretido numa conversa insólita. Eles estão meio esquisitinhos. Mary levanta do sofá saltitando. Ela me abraça fortemente.
- Hum. Que abraço gostoso - murmuro.
- Quanto tempo faz que você não vem aqui. O que andou aprontando?
- O que você, baixinha, andou aprontando, hein?
- Nada.
- Como assim? É claro que deve ter aprontado.
- Ah, tenho algumas coisinhas para contar a você - ela sorri.
- Hum. É coisa boa, sua chata?
- Para você não é. A mamãe e o papai já sabem, não precisa se preocupar.
- Eu espero.
A rainha da casa vem em minha direção para me cumprimentar. Ela me dá dois beijos e volta ao sofá, esticando as pernas. Ela posa as mãos no ombro do marido. Dou um forte abraço em meu pai, em meus irmãos e em Liara.
- Nossa, faz um tempo que você não apareceria - diz Heitor.
- A clínica, o hospital e a faculdade não me dão tempo.
- E a sua ruivinha?
Olho para ele, erguendo a sobrancelha esquerda. Ele ri.
- O quê? Só quero saber dela. Relaxe, eu não vou roubar ela de você.
- Ela está muito bem.
- Ah.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora