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Ela me olha, divertida. A tensão sumiu do ar. Sorrio também. O elevador para, e saímos pelo corredor grande do prédio.
- Não acredito que você veio me ver.
- Pois pode acreditar.
Ela destranca a porta, e entramos. O apartamento é grande, quase tudo é branco, os móveis combinam com a cor das paredes. Há quadros de pessoas acima das janelas grandes. Acho que é a família dela.
Meus olhos curvam todos os cantos da casa. É, para uma mimada que vive sob as asas do pai rico, ela tem muito bom-gosto.
- Bom, Thaly, este é o meu apartamento.
- Muito grande e organizado - comento.
- Meu pai comprou para mim.
- Quem é seu pai?
- Athos Júnior. Conhece?
- Já ouvi falar dele, mas nunca pensei que fosse seu pai.
- Ele é pai adotivo.
- Você é adotada? - franzo as sobrancelhas, embasbacado. Ela dá de ombros e acha graça.
- Sim.
- E você sabe disso?
- Sei.
Ahn?
- E como é viver assim, digo, sabendo que você tem uma família falsa? No bom sentido, claro.
- Ah, é normal. Sente-se - ela me conduz para um sofá meio branco, meio marrom.
- Você não se sente excluída às vezes?
- Às vezes, mas só quando há assuntos que eu não tenha nada a ver. Eles não me contam. Eu nem ligo.
- Você sabe quem são seus pais verdadeiros?
Ela me olha rindo, sem emitir som na voz. Que graça tem isso?
- Do que está rindo?
- De você. Não é só você que faz esse tipo de pergunta para mim, muita gente que me conhece faz. Vocês acham que ser adota é espantoso, esquisito e tal, mas não é. E, não, não conheço os meus verdadeiros pais. Aliás, não sei nada deles.
- Como não sabe?
- Não sabendo, oras. Athos, meu pai adotivo, detestara a ideia de que devo saber quem são meus verdadeiros pais.
Nossa, que pai esquisito.
- Quer dar uma volta de moto comigo?
Ela franze a testa. Acho que não entendeu.
- Moto? Sério? Você tem uma moto?
- Não é minha, é do meu pai.
- Que tipo de moto?
- Uma RR. Ela corre muito.
O sorriso estampando em sua cara demonstra que vai aceitar, mas logo depois desaparece.
- O que foi? - pergunto.
- O Leonel não vai gosta de saber que saí com você.
- Ah, ele não precisa saber. É só uma volta pelo Rio de Janeiro.
- É melhor não, ele vai ficar uma fera.
- O que você tem com ele? - falo rápido sem hesitar. Ela enrubesce, me olha meio fugazmente.
- Ah... é...
- Esther, ele é apenas o nosso professor. Esse cara manda na gente só na sala de aula - interrompo. Ela fita as mãos entrelaçadas à frente do ventre.
- Não é isso, eu fiz uma promessa de que não sairia com ninguém - e volta a atenção para mim.
- Você está namorando ele? - ergo uma sobrancelha, olho para ela, que fica meio sem jeito com o que acabou de ouvir.
- Não! Claro que não.
- E por que vocês são tão grudados na faculdade?
Ela enrubesce mais ainda.
- Ele é... meu...
- Esther, eu não nasci ontem. Eu sei que você anda dando umas trepadas com esse professor. Cuidado - aviso. Ela empalidece rapidamente.
- Você não vai contar nada, vai?
- Não vou ganhar nada com isso, Esther.
- Ahn. Obrigada.
- E então?
- O quê? - ela me olha.
- Vamos sair.
- Você deixa eu pilotar quando viermos embora?
Hum, a primeira patricinha vai pilotar a moto do meu pai.
- Deixo. Sabe pilotar, Srta. Winkler?
- Claro que sei. Meu pai tem uma também.
- Hum. Mas você não pode sair de short e nem dessa blusa.
- Que tipo de roupa se usa?
Dou de ombros.
- Ah, coloque uma calça jeans, uma blusa de manga pequena e uma jaqueta, de preferência de frio. Está um pouco gelado lá fora.
- Eu percebi. Será que não vou ficar feia desses trajes?
- Não. Ah... você topa sair para outros lugares esta noite?
Ela emudece e entorta o lábio inferior.
- Está bem.
- Ótimo. Passaremos na minha casa antes.
- Para quê?
- Para você trocar de roupa. Vou emprestar algumas da minha irmã de quinze anos. Vai servir, ela tem o seu corpo.
- Magra?
- É, mas você é mais magra do que ela. Precisa se alimentar direito - aconselho. Ela faz cara feia.
- Vou me arrumar. Está com fome?
Fome de você, ruiva.
- Mais ou menos.
- Na minha geladeira tem torta de limão com recheio de chocolate.
- Hum. Vou comer - sorrio.
- Enquanto você come, vou trocar a roupa.
- Vai lá.
Vai lá, sua linda. Acho bom ela não me dar muita confiança. Ah! Esther... você é muito gostosa. Agora sei porque aquele doutorzinho te escolheu.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora