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ATRAVESAMOS A RUA para pegar a moto que está estacionada do outro lado. Corro os olhos para as avenidas do apartamento da Sra. Montevidéu, checando tudo ao redor de nós. Há dois homens vestidos como seguranças, na rua. Um deles me observa de longe, enquanto outro fala ao telefone.
Coloco o capacete e subo na moto.
- Segure firme em mim.
Ligo o motor da grandeza, acelero e ela dá um ronco bem alto. Esther sobe em seguida, agarrando minha cintura.
- Está pronta?
- Sim - grita ela sob o barulho do motor.
Saio na primeira marcha. O barulho sagaz da moto percorre o bairro inteiro. Passo pelos seguranças com um olhar esguio, eles devolvem com um ar de desconfiança. Algumas crianças correm para perto da rua ao ouvir o barulho do motor.
Acelero mais uma vez na segunda marcha, instigando as pessoas insones que ficam esperando transporte público nos pontos da grande Rio. Arqueio o corpo para trás.
- Preste a atenção - digo em voz alta para Esther. - Eu vou correr bem rápido pelo centro da cidade, segure em mim, por favor. Eu sou responsável por você, Esther. Está me ouvindo?
- Estou - diz ela entre o capace.
- Eu acho que tem dois homens nos seguindo.
- E por quê?
- Eu não faço ideia. Agache mais o corpo no meu.
para eu sentir seu corpinho delicioso.
- Está bem.
Coloco na terceira e parto para a velocidade máxima da moto. O barulho é muito alto, tornando-se agudo nos ouvidos das pessoas ao redor. O som se atroa quando passamos pela rua São Francisco Xavier, no bairro da Tijuca.
Acelero mais um pouco. O vento bate em meu abdômen friamente. Esther gruda em mim com força. A moto continua atroando. De repente, puxo o freio em cima do quebra-mola. Esther vai com todo o corpo para cima do meu, desaprumada, e grita. Volto a primeira marcha.
- Calma, Esther.
- Nossa, essa moto tem potência.
Viro à direita, e paro em frente à minha casa, que fica bem escondida.
- Onde estamos?
- Na minha casa.
O portão automático abre, acelero e entro com a moto. O meu buldoguezinho sai pela porta, latindo. Desligo o motor e descemos.
- Cale a boca, Finfin - murmuro para ele.
- Ai, que gracinha! - Esther o pega nas mãos, em seguida tira o capacete.
Finfin é o nome que dei ao meu cachorro peludo. Ele é esperto e muito sapeca. Ganhei de uma ex-namorada minha, que foi embora com os pais para Las Vegas.
- É seu? - pergunta Esther, fazendo carícias em Finfin.
Ai, como eu gostaria de ser esse cachorro neste momento.
- É.
Desvencilho-me do capacete.
- Você comprou ele?
- Não, ganhei de uma ex que foi embora do Rio de Janeiro.
- Sério?
- Sério.
Ela beija o cachorro. Não! Por que ela não faz isso comigo?
- Vamos entrar - pego em sua mão. Ela hesita e larga Finfin no chão. Abro a porta de casa.
- Onde vamos agora, Thaly?
- Para o meu quarto.
Subimos as escadas, mas meus pais aparecem bem na hora. Eles me olham, intrigados. Acho que vão sair também.
- Thaly, quem é essa menina? - pergunta minha mãe, dando um sorrisinho.
- Está com namorada nova, meu filho? - meu pai acha graça.
Reviro os olhos e retrocedo dois degraus. Desfaço o laço entre a minha mão e da Esther.
- Pai, mãe, esta aqui é Esther Winkler, minha colega. Esther, estes sãos os meus pais, Raquel Cury e Daniel Alberto Cury.
- Muito prazer, Sra. Cury.
- Igualmente, moça linda.
Esther dá um sorrisinho carinhoso e cumprimenta meu pai também.
- Ora, ora, você é muito bonita, menina.
- Obrigada, senhor.
- Thaly, seu pai e eu vamos sair. Você vai ficar bem?
- Vou, mamãe.
- Cuide da sua amiga também.
- Claro.
Eles caminham pela porta, mas meu pai retrocede.
- Ah... Cuidado com a moto, tem muitos jovens perdendo a vida por aí. Você só tem vinte e dois anos, filho - aconselha.
- Pode deixar, pai.
Eles saem. Esther e eu ontinuamos subindo a escada. Paramos segundos depois, abro a porta e entramos, mas - não em meu quarto - e sim no da minha irmã. Ela está concentrada em seu monitor e logo nota nossa presença.
Ela larga tudo e vem correndo me abraçar. Odeio a melancolia dela.
- Oi, irmão.
- Oi, Karen.
Ela olha para Esther.
- Quem é ela?
- Uma colega da faculdade, se chama Esther. Esther, esta é Karen, minha irmã.
Elas dão um sorriso e se cumprimentam com um abraço.
- Amei seu cabelo. É tingido?
- Não, é natural mesmo.
- Karen, a Esther precisa de algumas roupas emprestadas para sair.
- Claro. Tenho várias que vão servir nela.
- Espero você no meu quarto, Esther.
- Ok.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora