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   Ela não dá a mínima para o assunto, o que é novidade para mim.
— O senhor é dono da empresa de moda Blanchard York?

   Viu? Até mudou de assunto.

— Minha família inteira é dona da empresa.
— Eu compro roupas pelo site dessa empresa.
— Que bom, a capa da revista ficou linda — sorrio, todo posudo. Ela sorri também.
— Obrigada. Doutor... o senhor... hã... costuma receber elogios?

   Ah, querida, eu estou cansado de receber elogios.

- Muito.
- Posso imaginar. O senhor é muito bonito e elegante - balbucia, me admirando.

Está sendo mais fácil do que eu pensava. Por que toda mulher baba por um rosto bonito?

— Ora, ora, obrigado, Srta. Winkler — sorrio. — Ah, e pode me chamar de Leonel.
— Está bem, Leonel. Quem escolheu esse nome?
— Meu pai.

   Ela me joga um olhar franzino, fazendo com que sua boca fique ainda mais bonita e carnuda. Eu me perco nela facilmente. Como eu adoraria beijar essa boca e fazer coisas que a dona ficaria impressionada.

   Se controle, Leonel.

   Uma música romântica surge no centro do restaurante, é Ed Sheeran cantando Even My Dad Does. Sou fã das músicas dele.

— ...minha mãe não queria, mas aceitou mesmo assim — diz Esther, empolgada, depois que termina uma frase que eu nem prestei a atenção.
— Ah — finjo que ouvi tudo.
— O senhor...
— Senhor não — corrijo, ela sorri meio sem jeito.

Termino meu café.

— Quer comer alguma coisa?
— A essa hora da manhã? Nem pensar.
— Por quê?
— Porque comida pesada de manhã engorda.

   Disparo em gargalhadas, e ela me olha como se gostasse da minha risada. Ou será que ela gosta?

— Você não quer engordar?
— Não.
— Mas está precisando, você é muito magra, muito. Não estou brincando dessa vez — falo sério, olhando no fundo dos olhos dela.
— Eu acho que não.
— Me dê sua mão.

  Ela estende a mão na mesa um pouco hesitante. Coloco-a sobre a minha.

— Está vendo? Você está muito magra. Gostaria que comesse, agora mesmo.
— Não, doutor, por favor.
— Você vai comer.

  Chamo o garçom, que vem quase de imediato, e faço os pedidos.
Ele me olha com cara feia. Eu também o encaro. Qual é a sua, magrelo?

— Gosta de miniquiche de brócolis?
— Gosto, pelo menos não tem carne.
— Não gosta de carne?
— Não muito.

  Hum. Já vi que essa aí é patricinha.

— Eu gosto de comer tudo.

  Se você estivesse na minha cama agora, Esther, eu a faria se contorcer e gemer embaixo de mim.

— Esther!

  Uma loira platinada a cumprimenta com um sorriso de orelha a orelha em outra mesa. Esther retribui o sorriso e manda beijinhos para ela. Quando ela vira, leva um susto ao se deparar com o meu olhar — eu a admirava muito.

— É... eu... O que foi?
— Nada.
— Então, por que me olha assim? — ela franze a testa.
— Porque eu posso — digo, impassível.

  Porque eu quero você, eu preciso beijar você e me enfiar entre suas pernas antes que eu fique louco.

— O senhor está bem?
— Estou ótimo — continuo impassível, admirando-a.

   O garçom nos interrompe. Filho da mãe. Ele chega nos momentos mais agradáveis.

— Obrigada — agradece Esther, em seguida eu.

  Ela começa a comer, e eu vou logo dando a primeira garfada.

— Hum... Está uma delícia, não é?
— É.

  Mudo o meu jeito de olhar, para não estragar nosso apetite. Esther já está constrangida com isso.

— Fale mais sobre sua vida.

  Dou de ombros.

— Eu sou um homem muito ocupado, não tenho tempo para muita coisa — poso as mãos sobre a coxa. — Minha profissão é estressante demais, mas também rende um bom dinheiro.
— Você se dedica às pessoas por que gosta? Ou por que se sente obrigado?
— Faço porque gosto. Eu sei que elas precisam de mim. Eu compreendo cada paciente que pisa na minha clínica.

  Se todos os médicos compreendessem um paciente além da doença, o mundo seria melhor.

— Você tem uma clínica?
— Tenho, mas não é minha completamente. Há mais três médicos que me ajudaram a construi-la e são donos junto comigo.
— Legal.
— Apareça lá quando puder.

  Para eu foder você em meu consultório.

   Estou louquinho para dar uma rapidinha com você, Esther. Iria levantar minha autoestima.

— Está bem. Eu sei onde fica a Clínica Blanchard.

   Você não vai se arrepender, ruiva. Vou deixar você que nem a Jaqui quando transava comigo naquele consultório.

   Esther Winkler, você vai ser minha, ou eu não me chamo Leonel Blanchard.

        
                                ***

   Alguns alunos da faculdade gostam de aparecer, usam coisas que nem eu mesmo nunca vi. Uma garota serve de exemplo: ela tingiu o cabelo de azul escuro que, na minha opinião, é horroroso. No meu tempo não era assim — não que eu esteja muito velho, mas as coisas mudaram.

   Olho para o resto dos professores já na sala de aula. Elliel e Oliver estão tensos por causa de uma aposta que fizeram ontem de manhã. Os dois só vivem apostando nem parece que são médicos sérios de uma universidade.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora