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   Acordo com o corpo quente e suado. Olho para o teto. É tudo branco, com mosaicos desenhados acima — obra da minha arquiteta que tem um ótimo desenhista trabalhando ao seu lado.

   Viro o rosto de lado. Uma garota de programa está deitada comigo. Ela veio ontem à noite para fazer o serviço. A prostituta é bonita, os cabelos são pretos e curtos. Ela não é magra e nem gorda. Tem tatuagens por todo o corpo.

   Levanto da cama e me espreguiço em direção ao banheiro.
  
   Uns cinco minutos de banho vai me fazer bem, pelo menos vou me livrar do cheiro daquela mulher. Ela usa um perfume barato, enjoativo.

   Escovo primeiro os dentes, mas logo dou uma pausa por causa do celular que toca freneticamente na mesa de vidro ao lado.

   Ninguém me deixa em paz!

   Decido atender depois.

   Quando volto do banho, a prostituta está acordada, ainda na cama. Ela me olha embasbacada por eu estar andando seminu. Pego o roupão da cama e me cubro.

  Minha expressão é séria e translúcida — o que faz com que ela fique intimidada com a minha presença. É o meu jeito, sempre acordo assim, sem nenhum sorriso humorado na cara. Ainda mais estando ciente de que transei com uma puta de rua na noite anterior.

— Levante — ordeno, porque estou odiando ver essa prostituta na minha cama.

   Ela obedece calada e veste as roupas, se é que isso pode se chamar de roupa: minissaia expondo a bunda e um pequeno top preto. Que horror!

— Quanto era o programa, mesmo? — digo, digitando a senha do cofre, que fica dentro do meu closet, às escondidas.
— Você disse que me ajudaria em um bom preço, então, nesse caso, quero vinte e cinco mil reais — ela arregala os olhos em expectativa.
— Acha que isso me afeta? — rio. — É mixaria.

   Retiro duas sacolas em papeis brancos de dentro do cofre e jogo em suas mãos. Ela rasga todos os lacres rapidamente.

— Se quiser contar, vá em frente, está tudo aí — digo num tom frio.
— Não, tudo bem.
— Hum.
— Eu fui útil ontem à noite para você?

   Volto para o quarto sem dar a mínima à pergunta dela.

   É, até que não foi nada mal transar com essa morena.

— Não vai responder à minha pergunta, doutor? — ela me segue.
— Se fizemos sexo é porque foi, não acha?

   Ela fica rubra. Começo a vestir minhas roupas para ir ao trabalho.

— Acho.
— Então não faça perguntas retóricas — murmuro depois que termino de me vestir.
— Obrigada pelo dinheiro.
— O que vai fazer com vinte e cinco mil reais?
   Ela fica surpresa com a pergunta, e me olha, dando um sorriso sardônico, como quem está relembrando de boas lembranças.
— Eu faço isso para ajudar meus três filhos, doutor.
   Ergo as sobrancelhas e faço beicinho ao passar a mão no maxilar, pensativo. Ajudar os filhos... Essas crianças vão ter uma “boa educação”...

— Creio que existe outros trabalhos decentes por aí — repreendo-a.
— É. Mas é o que eu escolhi.

   A vida dela deve ser um caos e muito perigosa. Mas acredito que há pessoas parasitas, que não querem lutar por melhores dias.
              

                               ***

13:22 PM

   No intervalo do almoço, no hospital Samaritano, vou a um restaurante mais próximo para almoçar com alguns colegas que me convidaram. Ao chegar, vejo eles entretidos assistindo a um jogo de futebol no grande telão acima da parede do restaurante.

   Hoje o trabalho foi menos cansativo, atendi poucos pacientes e realizei duas cirurgias.

— Oi, galera.

   Meus colegas me olham e me cumprimentam. Realmente, esse jogo que estão assistindo é péssimo, pelo menos para mim. Não sou muito fã de televisões.

   Abro o computador para checar minha caixa de email. Nossa, recebi sete mensagens. Uma delas é sobre a revista da empresa da minha família.

   Logo que abro o email, não acredito na imagem que vejo. Contrataram a Esther Winkler para ser a modelo da capa da revista Blanchard. Ela usa um vestido escarlate, que ficou muito bonito em suas curvas. É curto, de alças finas expondo os seios.

   Minha nossa! Me perco na imagem, alucinado.

   Essa menina mexe com os meus instintos, com os meus desejos, principalmente o carnal. Ela é linda, tão ingênua, tão pura. A vontade que eu tenho é de deflorá-la, provar seu gosto de mulher. Calma, Leo. Eu quero essa imagem para mim. Vou guardar bem direitinho.

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Empresa Blanchard York
Moda extremo
De: Leonel Blanchard
Assunto: Capa da revista
Data: 17/02/2010  11:27 AM
Para: Heithor Blanchard

Heithor, meu caro irmão, quero que revele a imagem da modelo da capa para mim. Estou disposto a fazer qualquer favor que você me pedir.

Hospital Particular Samaritano, rua Bambina,98 - Bairro Botafogo (RJ).
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   Um dos meus amigos pediu o almoço de todo mundo na mesa vinte e dois.

   Olho para o telão. Finalmente acabou o maldito jogo de futebol.

— Você viu a garota que está na capa da revista da sua família? — diz Elliel, meu colega.
— Vi.
— É a nossa aluna.
— Minha mãe soube escolher a capa da revista.
   Elliel sorri.
— Você está meio esquisitinho, hein?
— Impressão sua.
— Não é não, os outros médicos também acham.
— Só estou um pouco cansado, Elliel. Você sabe como a nossa vida é corrida.
— É, mas você deu uma relaxada ontem com aquela morena que encontramos no restaurante.
   Sorrio.
— Ela era uma prostituta.

   Ele fica incrédulo. Elliel é um pouco retardado, gosta de novidades e sempre que sabe de uma nova, esbugalha seus olhos e sua orelha a fim de saber mais.

— Ah, sério?
— Sério. Eu não sabia.
— Quanto ela cobrou?
— Vinte e cinco mil reais.

   Elliel arregala seus olhos azuis. Não falei? Ele é retardado.

— Nossa. Só por uma noite?
— Sim. Uma noite gostosa. Ela me fez relaxar.
— Três meses sem.

   Damos uma gargalhada juntos. Ele acertou na mosca. Três meses ocupadíssimo sem poder dar uma relaxada.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora