Capítulo 02

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Recebo o primeiro paciente às sete e quarenta da manhã. O rapaz é um jovem, loiro, alto e magro. Admiro ele, pois é raro um homem passar pelo meu consultório sozinho. O rapaz parece bem saudável - uma imagem vale mais que mil palavras. Porém as aparências também podem enganar - ele pode não ser como eu estou pensando. Conduzo-o para a cadeira à minha frente assim que ele fecha a porta.
- Hã... Você é Leonel Blanchard, certo?
Franzo as sobrancelhas, desconfiado. Normalmente sou eu quem pergunto quem a pessoa é.
- Certo.
O rapaz amarra a cara.
- Eu não vim para consultas, doutor, vim somente para resolver um probleminha com você. Eu tenho uma irmã que é sua aluna na Faculdade de Medicina.
Qual irmã? Do que ele está falando? Dou a atenção com postura de médico sério.
- Você sabe que os irmãos sempre protegem suas irmãs mais novas. Eu andei percebendo que a minha irmã anda tão distraída que nem me conta mais nada de sua vida. Então, eu cheguei à conclusão de que pode ser você o responsável por isso.
O quê? Me preparo para falar.
- Rapaz, eu não te conheço. Qual é o seu nome? - pergunto, roçando o polegar no meu queixo.
- Taylison Winkler, esse sobrenome é familiar? - ele ergue uma sobrancelha, desacatando-me.
Ah! A Esther. Ele deve ser o irmão dela, agora caiu a ficha.
- Você é irmão da Srta. Esther Winkler Marihá?
- Isso mesmo.
- Por que acha que eu sou o responsável pela distração dela?
Ele bufa.
- É óbvio, não é?
Não é obvio para mim.
- Você é o único professor jovem que ela já teve na vida. A Esther se sente atraída por você.
Ah... Então ela também senti o mesmo que eu.
- Eu entendo.
Mexo nos óculos.
Vamos, , Leo. Seja cauteloso com esse rapaz.
- Então, vai fazer alguma coisa?
Nossa, que pergunta idiota.
- O que você quer que eu faça, hein?
Ele levanta da cadeira e se aproxima da minha mesa, zangado. Colocando as duas mãos sobre a mesa, com os punhos cerrados, ele diz:
- Não sei. Dá um jeito. Eu só vim lhe avisar uma coisa: se você estiver com outras intenções para cima dela, eu acabo com a sua reputação na Faculdade de Medicina. Se quiser namorar, namore, mas ela não, você sabe porquê - ameaça e sai pela porta.
Droga! Será que a idiota falou para ele do beijo? Eu não tenho medo desse moleque insolente, se é isso que ela pensou mandando ele aqui.
Pegue leve, Leonel.
A minha carreira pode afundar. Mas o rapaz disse que só queria saber porquê ela anda tão distraída. Relaxe! Pense em algo. Você me paga, Esther.
Depois do trabalho, desço para almoçar com Mary. Ela passou o dia todo na minha casa. Assim que chego vejo Tânia e Pérola servindo a mesa de jantar e conversando com a minha irmã.
- Como vai, doutor?
- Bem, Tânia, obrigado. Oi, Pérola.
- Oi, doutor.
Dou um beijo em Maryelli e sento ao seu lado na mesa.
- O que foi? Você parece preocupado - Mary me observa.
- Não foi nada, Mary.
- Eu te conheço, irmão.
- Eu também te conheço e sei que você não quer saber dos meus assuntos.
- Ah, não fale assim.
Reviro os olhos.
- Quem era aquele rapaz bonito que saiu daqui agora a pouco?
- Irmão de uma aluna minha.
Dou uma garfada no atum ao molho.
- O que ele queria?
- Coma a sua comida, querida.
- Leonel - insiste.
Olho para ela.
- Maryelli, se você continuar com a sua maldita inquisição, vou mandar um táxi vir te buscar hoje à noite.
Ela faz cara feia e engole a comida, irritada. Que droga! Quando ela começa a perguntar não para mais. Estou tenso, hoje não vou dar aula na faculdade porque é sexta-feira, mas estou com vontade de amarrotar aquela ruiva.

O DIA ESTÁ LINDO quando acordo. Sem nada para fazer, pego o celular e fico olhando a lista de contatos à procura da Esther. Quando encontro o número, coloco para chamar. Será que está acordada? Já são nove horas e hoje é sábado. Ela tem que estar acordada. Na terceira chamada, ela atende:
- Oi.
- Oi.
- Quem fala?
- O seu professor, Leonel Blanchard.
- Ah, professor! Que surpresa - murmura meio sonolenta.
- Está ocupada?
- Não, eu estava dormindo. O que o senhor deseja?
Te dar uma boa surra, sua línguaruda.
- Saber se você está bem e pedir desculpas por aquele dia em que eu te beijei à força.
Mentira.
- Eu estou bem, doutor, obrigada. Não se desculpe.
Sua voz por telefone celular é calmo e suave. Isso me dá mais vontade de ficar ouvindo-a falar. Por que diabos eu me encantei com isso?
- Mas eu preciso. Você tinha razão, é errado.
Ela suspira no celular. Até o suspiro é manso.
- Eu...

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora