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O garçom - dessa vez com um sorriso bobo, volta à nossa mesa. Esther dá uma olhada rigorosa para ele. O mundo parece que desabou em sua frente, as bochechas estão avermelhadas que nem um pimentão. Observo, rindo em mente.
Você tem muito o que aprender, Esther Winkler Mariahá.
- Ok, doutor. Obrigado, volte sempre.
O rapaz se retira com a bandeja na mão.
- Ei - digo a Esther. Ela me encara, fugazmente.
- O que foi, Esther? Por que está assim?
- Você sabe.
- Nunca transou em público?
- Como assim? Você é o primeiro.
- Ah, desculpe, eu...
- Esqueça, vamos embora, seu idiota.
Ahn? Ela me chamou de idiota? Meu Deus, como eu, um homem que não leva desaforos, deixa essa menina falar assim? Só pode ser feitiço. Levantamos e seguimos em direção à grande porta da frente.
- Idiota, é?
- É - resmunga.
- Está bem.

ESTOU CORRENDO de carro em direção à Casa de Praia, minha BMW é rápida demais e muito divertida. Esther está latindo no meu ouvido, dizendo que devo parar de correr. Não estou tão rápido.
A entrada da Casa de Praia é longa, feita com pedras de mármores. Coqueiros com frutos vão da entrada até a saída, lambadas de luzes verdes resplandecem dentro de uma mandala de vidro exposta no chão do prado.
No terminal do caminho há uma casa grande ao lada da praia e mais duas do lado de fora. Esther fica impressionada com a paisagem. O ar é fresco, e à noite é fria. Paro o carro em frente à casa grande. Desligo o motor.
- Nossa, aqui é lindo demais, Leonel - diz ela, exultante. Mostro um sorriso bobo na face. Pego seu queixo carinhosamente.
- A gente vai passar o fim de semana aqui.
Ela sorri. Beijo suas mãos macias, e saímos de dentro do carro. O empregado que cuida da casa me aborda. Tânia está ao seu lado. Pego Esther pela cintura e dou um leve beijo em seus cabelos.
- O que a sua empregada está fazendo aqui?
- Acho que veio visitar o marido.
- O marido dela é esse senhor que está a seu lado?
- Sim.
Os dois se aproximam de nós, sorridentes e simpáticos.
- Olá, doutor - diz Gael, meu empregado e marido de Tânia.
- Olá, Gael, Tânia.
Ela dá um sorrisinho.
- Preparou a casa como ordenei?
- Sim, doutor.
- Muito bem. Gael - desvencilho-me de Esther por um momento. - Esta é a minha namorada, Esther Winkler. Esther, este é Gael Lafayette.
Eles se cumprimentam com um aperto de mão.
- Muito prazer, senhorita.
- O prazer é meu, Sr. Lafayette.
- Bom, Tânia, a senhora já conhece a Srta. Winkler.
- Olá, Tânia.
- Olá, Esther.
Chamo Gael ao lado, para uma conversa séria. Deixo Esther com Tânia, elas se dão muito bem e, inclusive, conversam bastante.
- Gael, quero todos os comprovantes dos gastos com a Casa de Praia, as contas que foram feitas, quem são os turistas que passaram por aqui e tudo mais. Entendeu?
- Entendi. Quer tudo isso ainda hoje?
- Não, traga os papéis segunda-feira, no meu escritório.
- Como quiser.
- O prado ficou ótimo - comento, avaliando com os olhos. - Quanto custou a obra?
- Cem mil dólares, doutor.
- Eu quero os papéis dessa obra também.
Ele me olha e franze a testa.
- Está desconfiando de algo, Dr. Blanchard?
- Ora, Sr. Lafayette, nesta vida podemos desconfiar de tudo, não acha? Como dono desta propriedade, devo ser cauteloso com os negócios que rolam por aqui. O senhor é muito mais vivido do que eu e sabe que tenho razão.
- É, me desculpe.
Ignoro-o. Interrompo a conversa de Esther e Tânia.
- Vamos entrar? - digo a Esther.
- Vamos.
- Quer que eu prepare algo para comer, doutor?
- Não há necessidade. Jantamos num restaurante da cidade antes vir para cá.
- Ah.
- Vamos, Esther.
Ela me estende a mão com carinho, como sempre. Subimos os pequenos degraus da casa, mandei pintá-la de marrom claro, uma cor meio abatida. Por dentro, é tudo avermelhado, paredes, janelas, cortinas.
Abro a porta, entramos. Esther leva os olhos para todos os cantos da casa, embasbacada.
- Uau - sussurra ela, estupefata.
- O que achou?
- É magnífica.
- Quero te levar à minha suíte, vem - puxo ela para o corredor.
- Esta casa foi planejada com muito amor - comenta. Começo a rir.
- Você acha?
- Sim.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora